quinta-feira, 6 de agosto de 2009

PARA O QUÊ SERVE ESTE PED

Um PED para enxugar gelo?

Cada vez mais me convenço da correção da proposta de adiamento da realização do PED-Processo de Eleições Diretas do PT, para 2011, após as eleições do ano que vem, quando o quadro de forças externas e internas ao partido estaria desenhado, de preferência vitorioso na disputa presidencial e com desempenho ascendente nas demais disputas eleitorais. Mas a proposta defendida por representantes da tendência Articulação de Esquerda em reunião do Diretório Nacional do PT, não contou com adesão das demais correntes internas do partido e foi rechaçada.

Digo isso, porque o necessário debate estratégico, organizativo e programático do PT, diante de tantas novidades no contexto político nacional e internacional, onde, no primeiro caso, se destaca a experiência de governar o país ao longo de oito anos e, no segundo, a crise econõmica e financeira que coloca em xeque a lógica mercantil que viceja (e governa) no mundo há cerca de três décadas, está sendo superado pelo não menos necessário, porém insuficiente, debate tático relacionado ao calendário e ao processo eleitoral que se avizinha

.Como se sabe muito bem, a correlação de forças pós PED no PT, não tende a sofrer profundas transformações, e o governo Lula e o próprio, ainda permanecerão incidindo fortemente sobre as escolhas partidárias. A meu juizo, o sentido da realização do PED este ano se insere no contexto das acomodações internas, inclusive no interior das correntes, e em função do investimento em novas filiações que elas realizaram dentro do calendário definido pelo congresso nacional do partido. Adiá-lo, por sua vez, consistiria em ver todo esse esforço ser jogado fora, além da incerteza sobre o impacto que o resultado eleitoral de 2010, seja ele qual for, teria sobre a disputa interna do partido. Aí sim, poderia se operar mudanças de maior profundidade no interior do partido.

O que está cada vez mais claro neste PED é que além da inevitável hierarquização do debate tático, institucional e eleitoral, por conta da alta temperatura prevista para disputa que haverá em 2010, as composições ou dissensões internas entre a maioria das correntes, campos e lideranças políticas do PT, obedecem a aquelas acomodações, ou estão relacionadas as disputas majoritárias estaduais, a reprodução de mandatos e, para serem coerentes e dar vazão a tais objetivos, a ocupação ou maior acesso junto aos aparatos de governo, sejam eles nacional, estaduais e municipais.

O debate estratégico e organizativo que alguns podem erroneamente rotular de internista e doutrinarista, mas que corresponde não só a atualizar os objetivos de curto e longo prazos do partido à luz do atual período histórico, sua relação com os movimentos sociais que ainda se mantém como o principal diferencial do PT perante os demais partidos, inclusive os do campo democrático e popular, e como dotá-lo de condições políticas e organizativas, para atrair para a sua esfera de influência partidária, parcela de milhões de brasileiros e brasileiras que se seduziram pela realizações concretas e simbólicas do governo Lula, nesses termos nos quais será realizado o PED, está inexoravelmente adiado.

Com efeito, o que hoje move o partido no PED é, primeiro, observar as definições de Lula, Dilma Rousseff e da cúpula do partido em direção a 2010, para depois saber se em Minas Gerais o PT vai de candidatura própria e quem será o candidato, ou se vai apoiar o PMDB, se em São Paulo é candidatura própria ou apoio à Ciro Gomes, se no Rio é Lindberg Farias ou o apoio à reeleição de Sérgio Cabral, se em Pernambuco o candidato do PT ao senado é o ex- prefeito João Paulo ou o ex-ministro Humberto Costa, qual o candidato e de que partido o PT irá apoiar no Paraná, no Maranhão, em Goiás, Mato Grosso do Sul etc etc. E nos estados onde a tática eleitoral majoritária está melhor encaminhada, mas não só neles, a composição de dobradas para a disputa de mandatos proporcionais e a ampliação de apoios que elas obterão a partir de tais composições.

Não é por acaso que o quadro de apoio e composição de forças do último PED, ocorrido há dois anos atrás, para o atual, em tão pouco tempo sofre modificações, algumas no plano ideológico que se pode considerar exdrúxulas. Exemplo disso é na Bahia, quando uma corrente regional que há pouco se situava no campo da esquerda do partido, faz um giro de cento e oitenta graus para apoiar a candidatura de José Eduardo Dutra, da CNB. Ou quando no Estado do Rio, a Mensagem, que surgiu com o ideário de refundar as práticas políticas do partido, se divide em duas chapas e entre uma candidatura a presidência estadual do partido própria e ao apoio a um candidato da mesma CNB, ou ainda o Movimento PT, no mesmo Estado do Rio, se divide entre duas candidaturas presidenciais, uma oficial e outra dissidente da CNB, tendo como pano de fundo acordos relacionados a tática eleitoral majoritária e proporcional.

Embora não tenha aqui o cenário nacional de composições estaduais com vistas a disputa do PED, impulsionadoas pelos referidos interesses imediatos e eleitorais, situações semelhantes podem, poderão ocorrer ou ocorrem nos demais estados.Na disputa nacional, a chapa que obteve a segunda maior votação no PED passado, inclusive na disputa presidêncial, se dividiu entre o lançamento de uma candidatura própria à presidência nacional do PT, do deputado federal Geraldo Magela (PT-DF) e o apoio ao candidato da CNB, o presidente da Petrobrás Distribuidora, José Eduardo Dutra (PT-SE). O campo Mensagem, dividido até a última hora entre ter uma candidatura própria e apoiar o candidato da CNB, se definiu pela primeira opção, e lançou novamente o deputado federal, José Eduardo Cardoso (PT-SP). A esquerda socialista do PT finalmente se unficou em torno de uma chapa comum e da candidatura a presidência da deputada federal Iriny Lopes (PT-ES), a única mulher na disputa.

Para muitos o PT é isso o mesmo, "para enxugar gelo", um partido eleitoral que se move pela conquista de parcela de poder sem questionar a natureza de tal poder, e sequer ambicionar mudá-lo numa perspectiva transformadora. Apenas para exercê-lo e quando possível torná-lo menos injusto para os "de baixo". Como se fosse possível efetivamente conquistar tal objetivo, sem se forjar um partido dirigente, capaz de construir alianças políticas e sociais, e através da execução de um programa político realizar mudanças profundas na natureza desse poder.

Mas como quem persevera não se entrega, é mister que no PED que será realizado esse ano, se construa um acordo político na direção do partido. Os setores que perseveram pela promoção de um salto de qualidade nas formulações organizativas e estratégicas do PT devem conduzir essa proposta de acordo para que, não obstante a primazia inevitável da agenda tática e eleitoral, se construa e se torne principal o que hoje ainda é uma agenda paralela, que junto com representações do movimento social, da institucionalidade parlamentar, da intelecutalidade e da militância petistas, se acumule sobre esses pontos a partir de ante-projetos de resolução que caberá a prória direção partidária apresentar para o conjunto do partido.

Como o PED está deflagrado, não há retorno possível, a meu juizo, esta é a única forma da militância partidária ser envolvida num processo de eleitoral interno que tenha algum saldo organizativo e estratégico. Até porque esse debate está na órdem do dia, e pode fornecer pistas para a superação das limitações não só do partido como também do próprio governo Lula.

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