quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

OPERAÇÃO CONDOR, JANGO E EDUARDO FREI

Carta Capital | Seções | Colunistas

27/12/2009 19:48:00

Mauricio Dias

Em novembro do ano passado, em cerimônia realizada durante a conferência da Ordem dos Advogados do Brasil, em Natal, o governo brasileiro anistiou postumamente o ex-presidente João Goulart, atendendo à ação movida pela ex-primeira-dama Maria Teresa.

Jango, como era conhecido, deposto por um golpe militar em 1964, morreu em 6 de dezembro de 1976, no Uruguai. No atestado de óbito, assinado por um médico uruguaio, a causa da morte foi diagnosticada descuidadamente como enfermedad e, posteriormente, rebatizada de “ataque cardíaco”. Nada mais suspeito para uma morte já cercada de suspeição.

À margem do diagnóstico oficial, consolidou-se a versão de assassinato. Jango constava da lista de crimes perpetrados, pela Operação Condor, contra líderes políticos sul-americanos. Ele teria sido envenenado. Jango foi enterrado sem a autópsia pretendida pela família.

Há poucos dias, o povo chileno foi informado de que um ex-presidente do país, Eduardo Frei, foi assassinado, em 1982, no apogeu da ditadura do general Pinochet. A versão oficial na ocasião: choque séptico motivado por infecção bacteriana. A morte, constatou-se agora, foi provocada criminosamente “pela introdução de substâncias tóxicas” no corpo de Frei. Uma fatal sopa de bactérias.

Essa revelação no Chile fortalece as suspeitas no Brasil. “Estou cada vez mais convencido de que envenenaram meu pai”, reafirma João Vicente Goulart, que há anos disputa uma maratona contra o ceticismo e descaso das autoridades brasileiras.

Às vezes, parece que João Vicente vai perder a corrida. Às vezes, acredita que pode ganhar.

Nos últimos dias, além da reviravolta da morte de Frei, ele recebeu notícias animadoras de uma ação civil que, da Procuradoria-Geral da República, em Brasília, desviou para o Ministério Público do Rio Grande do Sul.

Inicialmente, até mesmo o ministro da Justiça, Tarso Genro, ligou para ele com a impressão de que o MP estava com tendência “a encerrar a ação”. Parecia mesmo. O filho de Goulart recebeu um comunicado “surpreendente” do MP de que faltavam provas e que cabia à família apresentá-las.

Mas há, sim, provas suficientes para sustentar uma exumação. As mais recentes: um ex-agente uruguaio, preso no Brasil, confirmou o crime; CartaCapital publicou documentos do extinto Serviço Nacional de Informações em que aparece um certo “Agente B” infiltrado no círculo de relações do ex-presidente brasileiro. (LINK REPRODUZIDO ABAIXO)

Mais uma vez, em vez de recuar, o filho do ex-presidente avançou. Dirigiu-se com respeito, mas também com vigor, ao procurador, sugerindo que “em vez de pedir provas à família” ele deveria dirigir-se ao Arquivo Nacional, onde há 600 caixas de documentos ainda não conhecidos. “Lá, certamente, estão mais documentos referentes a Jango de 1973 a 1976”, acredita João Vicente. O procurador seguiu a sugestão.

Não é mais, e somente, a emoção da família do ex-presidente que tem justificadamente a cabeça tomada pelas dúvidas. Há pistas que podem conduzir às provas do assassinato. A exumação é necessária.

Por que, alguém de direito, não se designam um juiz e um procurador, ou mais, se necessário, para cuidarem exclusivamente do caso, como foi feito no Chile? A história envolve um ex-presidente brasileiro. Mesmo que, como se sabe, seja ele um nome maldito para a elite brasileira.

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(LINK REPRODUZIDO)

FECHAR Gilberto Nascimento

Jango assassinado?

Carta Capital | Seções | Política

13/03/2009 15:32:43

Gilberto Nascimento Documentos inéditos do Serviço Nacional de Informações (SNI) e de outros órgãos militares do Brasil obtidos por CartaCapital dão detalhes do esquema de vigilância e do monitoramento das atividades do ex-presidente João Goulart no exílio, desde o golpe que o tirou do cargo em março de 1964 até sua morte em 6 de dezembro de 1976. Agentes militares tinham acesso a sua residência e conviviam com o ex-presidente no dia-a-dia.

Os relatos sobre a espionagem, comprovada agora em documentos, reforçam as suspeitas da família de que Jango teria sido morto por envenenamento. Seus familiares receberam um calhamaço de 7 mil documentos sobre o ex-presidente, entregues pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, há dois anos.

Em meio ao caudaloso material, segundo o pesquisador Oswaldo Munteal, da Fundação Getulio Vargas, que trabalhou na catalogação dos documentos, há o relato de um agente infiltrado no apartamento e na fazenda de Jango que descreve ao SNI substâncias que viriam de fora do País e poderiam ser utilizadas para a eliminação do ex-presidente. Essas substâncias seriam tratadas ou trocadas no Brasil. “O relato foi feito pelo agente infiltrado no fim de 1975, cerca de um ano antes da morte de Jango”, afirma o pesquisador.

A denúncia de que Jango teria sido morto com a utilização de um produto químico foi feita no ano passado pelo ex-agente do serviço de inteligência uruguaio Mario Neira Barreiro, preso por tráfico de armas na penitenciária de segurança máxima de Charqueada, no Rio Grande do Sul. Uma operação montada para vigiar e depois assassinar Jango, segundo Barreiro, foi chamada de “Escorpião” e envolveu os governos do Brasil, Argentina e Uruguai.

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