terça-feira, 30 de março de 2010

LINDBERG SENADOR MOSTRA A QUE VEIO

Uma nova atitude no PT

No dia seguinte a realização das prévias, onde garantiu com ampla maioria de votos a sua indicação para disputar o senado pelo PT no Estado do Rio de Janeiro, o prefeito de Nova Iguaçu Lindberg Farias mostra a que veio ao declarar para a jornal O Globo que em conversa reservada com o presidente República, Luiz Inácio Lula da Silva, por ocasião da cerimônia de lançamento do PAC 2 - segunda versão do Programa de Aceleração do Crescimento do governo federal - em Brasília, ouviu que "Lula pedirá votos também para Crivella", senador do Rio, candidato a reeleição pelo PRB, partido do vice-presidente da República, José Alencar.

Mais do que uma polêmica declaração de Lindberg Farias, tal postura se afigura uma mudança de atitude política do PT em relação ao seu vitual parceiro nas eleições estaduais de 2010, haja vista que o PT se encamina para disputar a eleição em coligação com o PMDB, cujo candidato ao senado anunciado até o momento é o deputado estadual e presidente da Assembléia Legislativa, Jorge Picciane, que divide o controle do PMDB local com o governador Sérgio Cabral, que será candidato a reeleição e conta com o apoio do petismo fluminense.

Ao ser identificado por Lindberg Farias como quem atuou nos bastidoreas para minar a sua indicação pelo PT ao senado e trabalhar a favor da candidatura de Benedita da Silva, Picciane e o seu partido, que não aparece bem nas pesquisas - oscila entre 9%, 10% e 11%, dependendo do cenário - mas tem a seu favor uma poderosa máquina eleitoral com capilaridade em todo o estado, recebem um claro recado: terminou a temporada de adesão do PT ao PMDB no Estado do Rio, ou se estabelece uma relação de mão dupla, de cooperação mútua, ou é cada um por sí.

Não custa lembrar que a favor do prefeito de Nova Iguaçu, além do seu potencial eleitoral e da força do PT, há o compromisso do presidente da República de apoio em sua jornada rumo ao senado federal e o contínuo crescimento da popularidade da candidatura da ministra Dilma Rousseff à Presidência da República. Ao lado disso, há os vultosos investimentos em políticas públicas que o governo federal aloca para o Estado do Rio, sem o qual o governo Sérgio Cabral não teria muito o que mostrar para vitaminar a sua campanha de reeleição.

Com efeito, a perspectiva desta mudança de atitude foi decisiva para que Lindberg Farias conquistasse o dobro de votos que obteve Benedita da Silva, secretária estadual de Assistência Social e Diretos Humanos, nas prévias do PT realizadas no último domingo. De Bemedita, em função da sua condição de integrante da administração estadual e pelo seu estilo de se conduzir na política jamais se esperaria tal postura. Quem conhece ambos, e os petistas do Rio conhecem bem, não tinha dúvidas a respeito disso e foram com esta certeza para os locais de votação da consulta interna do PT depositarem os seus votos.

O petismo fluminense há muito revela desconforto com a relação até então estabelecida com o PMDB, haja vista a votação dos candidatos que propugnavam a tese da candidatura própria do PT no PED (Processo de Eleições Diretas) realizado ao final do ano passado. Para não se cometer injustiças, vale destacar que a postura do deputado federal Luiz Sérgio a frente da presidência estadual do PT-RJ e na defesa dos interesse do partido já sinalisava esta inflexão em relação a aliança estadual com o PMDB.

A despeito da interpretação de cada um a respeito da posição do presidente Lula, manifestada atraves de Lindberg Farias, de apoio a reeleição do senador Crivella, que para o presidente é um aliado fiel no senado ao longo das suas duas gestões presidenciais e pertence ao mesmo partido do vice-presidente da República, José Alencar, o fato é que mesmo liderando as pesquisas para o senado no Estado do Rio a posição do senador não é tão confortável quanto parece. Crivella está isolado, o seu desempenho eleitoral nos últimos pleitos que disputou vem se reduzindo e conta com pouco tempo no horário eleitoral gratuito de rádio e TV. O governador Sérgio Cabral e os demais candidatos ao governo do Estado temem se aproximar dele e comprar uma briga com as Organizações Globo, por conta da ligação de Crivella com a TV Record , que trava uma guerra sem quartel com as empresas de comunicação dirigidas pela família Marinho.

Num cenário em que cada apoio do PMDB ao governo federal têm um alto custo político e que a outra forte candidatura ao senado federal é do ex-prefeito César Maia (DEM), que enxerga no PT e no governo Lula os seus adversários preferenciais, entre um aliado fiel, um aliado complicado e um adversário ferrenho, por mais que a posição do presidente Lula cause desconforto há inúmeros dos seus aliados e apoiadores, do ponto de vista polítco prático tem lá os seus fundamentos.

Enfim, a declaração de Lindberg Farias é um fato político - que há muito o PT não criava no estado, outros certamente virão -, que tem o condão de conduzir o PT ao protagonismo na cena política do Estado do Rio, revela uma radical mudança de postura e de atitude do partido frente ao PMDB e, sobretudo, está harmonizada com a estratégia de criação de fortes palanques para a candidatura da ministra Dilma Rousseff no estado e com a sustentação parlamentar de um possível governo petista saído do resultado das eleições presidenciais deste ano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário