sexta-feira, 19 de março de 2010

PARA ALÉM DA DISPUTA DO SENADO NO RIO

A construção das chapas proporcionais do PT

O PT no Estado do Rio, dirigentes e militantes, está voltado para a disputa ao senado, onde postulam a mesma vaga a secretária estadual de Assistência Social Benedita da Silva e o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias.

Algo compreensível para uma disputa que promete ser acirrada, onde o prefeito de Nova Iguaçu largou na frente, mas a secretária passou a desfilar com mais desenvoltura nas hostes petistas, após um breve repouso para repor as energias, e realizou na última quinta-feira plenária de campanha bastante representativa.

Os prognósticos variam de acordo com o interlocutor e a campanha a qual está engajado, como não poderia ser diferente, mas nenhum lado subestima a força do outro. Afinal de contas, Benedita da Silva é uma veterana em disputas internas do partido e Lindberg Farias disputa pela vez primeira uma prévia majoritário em nível estadual, mas é bom de campanha e esta cercado do petistas tão veteranos quanto a secretária nesse tipo de disputa.

Além disso, a consulta direta a filiados para a escolha de candidatura ao senado é um fato novo no PT. Ninguém ousa a afirmar com precisão o impacto de mobilização desse processo junto à militância petista.

No entanto, os preparativos para a disputa das eleições de 2010 não se resumem a escolha do candidato ao senado. Esta em jogo a composição da chapa majoritária que o PT vai participar, inclusive a definição do nome do candidato a vice, os dois suplentes ao senado na vaga petista, e as contribuições programáticas que o partido vai propor para a plataforma de campanha da coalizão que se formará em torno da reeleição do governador Sérgio Cabral (PMDB)

Mais do que isso, sobretudo, está em jogo a organização das chapas proporcionais para a disputa à Assembléia Legislativa e à Câmara Federal, num cenário em que no plano estadual o número 15, do PMDB, do governador Sérgio Cabral, vai prevalecer em relação ao 13 do PT. E isso pode influir no desempenho da chapa petista.

Já que a direção estadual passada não logrou se debruçar sobre a composição das chapas proporcionais do PT, identificar e estimular lideranças com potencial de candidatura nos municípios, buscar ter candidaturas competitivas em todas as regiões do estado - não só para a disputa imediata, mas para a preparação das eleições municiapis de 2012 - e evitar concentração demais em determinadas regiões em detrimentos de outras; a atual, presidida pelo deputado federal Luiz Sérgio Nóbrega, conta com pouco mais de três meses para recuperar o tempo perdido.

É idéia corrente que a nominata estadual do partido, que será a mais afetada pela perda do 13 na composição majoritária, esta equilibrada e conta com várias pré-candidaturas de bom potencial, e com a do ministro do Meio Ambiente Carlos Minc com credenciais de puxador de legenda, mas até onde se sabe está distante de preencher as 105 vagas (caso não haja coligação) a que tem direito, inclusive em relação a cota de indicação de mulheres.

Já a situação da nominata da câmara, também afetada pela prevalência do 15, contudo mais influenciada pelo 13 da candidatura presidencial petista da ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, é preocupante. Se por um lado possui cinco dos seis parlamentares eleitos em 2006 disputando a reeleição e mais outros quatro ou cinco pré-candidaturas competitivas - apenas uma mulher - , o que com boa vontade perfaz 9 ou 10 candidaturas com forte potencial, da mesma forma que a estadual está longe de preencher as 69 vagas disponíveis. Fora daquelas 9 ou 10 pré-candidaturas referidas, não ha nenhuma que expresse potencial de votos que contribua para um desempenho expressivo da legenda.

Um assunto sempre polêmico no PT é a coligação proporcional. Na pleito passado, a que foi realizado com o PSB no âmbito federal tornou possível a conquista da última das 6 vagas petistas na chapa, a do deputado federal Carlos Santana. Em contrapartida, no estadual, o PT perdeu uma vaga para o mesmo partido. Elegeu 6 deputados quando obteve votos para eleger 7 e disputar mais uma vaga na sobra. Naquele processo a aliança proporcional foi decorrência da tática de ampliar apoios para a candidatura majoritária petista, do ex-deputado federal Vladimir Palmeira. Dessa vez está necessidade não se impõe.

As informações que chegam da atual bancada estadual petista não são favoráveis a uma coligação proporcional, quanto a federal não conhecemos o posicionamento.

No âmbito dos nossos tradicionais aliados, PCdoB e PSB, um alto dirigente estadual do primeiro declarou para o editor deste blog, que o seu partido vai disputar com chapa própria tanto no plano estadual quanto federal, sendo que neste caso terá como puxadora de legenda a atual secretária municipal de Cultura Jandyra Feghali, candidata a ser uma das mais votadas no estado, o que assegura a eleição dela e a do atual deputado federal Edimilson Valentim. Embora vá jogar tudo para conquistar uma terceira vaga.

Já no caso do PSB, o seu presidente, Alexandre Cardoso, deputado federal licenciado que ocupa a Secretária Estadual de Ciência e Tecnologia, manifestou a um deputado estadual petista o desejo de compor aliança no plano federal. Sobre a chapa estadual não se sabe ainda a posição do partido, mas tende a ser semelhante.

O PT está muito atrasado neste debate, que deveria ter se iniciado na gestão passada da direção, que no âmbito eleitoral limitou-se as escaramuças relacionadas a tática majoritário do partido. Com isso, perdeu- se a oportunidade de identificação de lideranças e personalidades com afinidades com o partido, instá-las a se filiarem e convidá-las para compor as chapas proporcinais do partido, dentro do prazo mínimo de filiação de um ano previsto na lei eleitoral.

Esta é uma tarefa coletiva de direção, já que, salvo raríssimas exceções, é da natureza das lideranças e figuras públicas do partido detentoras de mandato parlamentar ou executivo, trabalhar pelas suas próprias campanhas, seja para a atração de apoios, seja para estimular outras candidaturas, mas na perspectiva de conformar as suas próprias dobradas.

Portanto, seja qual for a tática eleitoral proporcional adotada pelo PT do Rio, urge que a sua direção estadual, mesmo com bastante atraso, a partir do Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) construa de imediato um plano de ação sobre o assunto, para dotar as chapas proporcionais petistas de melhores condições para a disputa, tanto em termos qualitativos quanto quantitativos, para que em outubro de 2010 não se depare com a contradição de ter candidaturas bem votadas, mas legenda com votação insuficiente para manter e/ou ampliar o seu desempenho.

Um comentário:

  1. Muito importante a sua reflexão, Flávio. Só temo que seja tarde demais. Como não há um projeto partidário global, há candidatos - principalmente aqueles com mandato - operando o enfraquecimento e a desmobilização de candidaturas locais ou regionais "concorrentes", sem chances de vitória eleitoral mas que contribuiriam para a legenda e acumulariam para 2012.

    Grande abraço

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