sexta-feira, 13 de agosto de 2010

ENTREVISTA COM VALTER POMAR NO VERMELHO

“Não devemos nunca subestimar a direita”, entrevista de Valter Pomar ao Vermelho

Ao completar 20 anos, o Foro de São Paulo, que agrupa as esquerdas latino-americanas, se reúne entre 17 e 20 de agosto, em Buenos Aires, para passar em revista sua trajetória, comemorar conquistas e debater desafios. De acordo com Valter Pomar, secretário executivo do Foro e dirigente do PT, a principal tarefa que a organização tem pela frente é articular partidos, movimentos e governos, “na batalha contra as elites de cada pais, a pressão dos EUA e a herança deixada pelo neoliberalismo”.

Em entrevista ao Vermelho, ele fala sobre os avanços das forças progressistas nessas duas décadas, mas, em ano eleitoral no Brasil e na Venezuela, alerta para uma contra-ofensiva da direita. “Temos que evitar qualquer tipo de postura triunfalista. Não devemos, nunca, subestimar a direita local e os seus aliados, seja na Europa, seja nos Estados Unidos”, coloca.

Pomar fala ainda da iniciativa do Foro de criar um observatório de governos progressistas, disponibilizando, na internet, textos que permitam acompanhar o que ocorre nos países e debatendo sobre esse material.

Na entrevista, concedida por e-mail, Pomar afirmou que o conflito envolvendo Bogotá e Caracas deve ser avaliado no encontro. Ele defendeu um acordo de paz na Colômbia e opinou que, da parte da guerrilha, “um sinal poderia ser um cessar fogo unilateral, libertar os prisioneiros e informar se aceitam a mediação, por exemplo, da Unasul”. Leia abaixo:

Vermelho: O FSP está fazendo 20 anos. O que mudou nesse período na e para a esquerda latino-americana?

Valter Pomar: Quando começamos o Foro, o socialismo estava em colapso, o neoliberalismo em ofensiva e os Estados Unidos reinando solitário. Hoje, os EUA estão tentando evitar seu próprio declínio, o neoliberalismo está em retirada e o socialismo volta a ser debatido. Como síntese disto, muitos países da América Latina hoje são governados por partidos de esquerda.

Vermelho: Qual o objetivo do XVI Encontro do Fórum?

VP: Debater como aprofundar as mudanças, acelerar a integração regional, derrotar a direita, acentuar a unidade entre as distintas esquerdas da região e dotar o Foro de mecanismos organizativos que permitam fazer dele um espaço de reflexão e articulação, para construir e implementar uma estratégia que, no limite, visa a criar um novo modelo de desenvolvimento para a região, um modelo democrático-popular, articulado com o socialismo.

Vermelho: Quais os desafios e perspectivas do Fórum?

VP: O desafio fundamental do Foro é articular os partidos de esquerda na região, com os movimentos e governos, na batalha contra os três principais problemas que enfrentamos: as elites de cada pais, a pressão dos EUA e a herança deixada pelo neoliberalismo, do desenvolvimentismo conservador e do colonialismo.

Vermelho: O novo encontro ocorre num momento em que Bogotá e Caracas tentam superar o conflito provocado por acusações de que a Venezuela teria abrigado guerrilheiros das Farc. Esse assunto deve ser pauta das discussões? Na programação há um debate sobre defesa regional…

VP: Certamente o assunto será tratado. A título pessoal, gostaria que o Foro aprovasse uma resolução indicando claramente que não existe saída militar para o conflito na Colômbia; que a saída é um acordo de paz; que o novo governo colombiano e as guerrilhas devem tomar medidas práticas neste sentido; e que, da parte da guerrilha, um sinal poderia ser um cessar fogo unilateral, libertar os prisioneiros e informar se aceitam a mediação, por exemplo, da Unasul.

Verrmelho: A reunião também acontece a um mês da eleição venezuelana e a dois da disputa brasileira. Qual a importância desses dois eventos para o trabalho desenvolvido no FSP? Também estarão em debate?

VP: Em debate, propriamente, não, uma vez que o Foro não tem nenhum tipo de ingerência sobre a tática eleitoral adotada no Brasil e na Venezuela. Mas certamente haverá informes a respeito, uma vez que o resultado destas duas eleições afeta o conjunto da esquerda latino-americana.

Vermelho: Depois de uma década de muitas conquistas para a esquerda, nota-se uma reação da direita (vide o golpe de Honduras e as eleições no Panamá, no Chile e na Argentina). Qual deve ser a posição do Fórum sobre o tema?

VP: Primeiro, reafirmar a existência desta contra-ofensiva e evitar qualquer tipo de postura triunfalista. Não devemos, nunca, subestimar a direita local e os seus aliados, seja na Europa, seja nos Estados Unidos. Segundo, o Foro deve, respeitada a legislação de cada país, identificar como pode ajudar a esquerda no México, no Peru, na Colômbia, no Chile, no Panamá, em Honduras, etc. No caso da Argentina, minha impressão é que o quadro virou e que as forças de centro-esquerda já estão achando o caminho para vencer as próximas eleições presidenciais.

Vermelho: O encontro pretende criar uma espécie de observatório de governos progressistas. O que é e como funcionará?

VP: Nós falamos muito, mas na verdade conhecemos pouco o que estão fazendo, em termos práticos, cada um dos governos progressistas e de esquerda. O Observatório tem este propósito. O primeiro passo é disponibilizar, numa página web, os documentos e os links que permitam a qualquer um acompanhar o que ocorre nos países, seus dados fundamentais etc. O segundo passo é iniciar um processo de debate e reflexão sobre o que fazem os atuais governos.

Vermelho: Acontecerá também o segundo encontro da Juventude do FSP. Qual a importância dele?

VP: A esquerda vive do futuro, não do passado. E o futuro dependerá, em boa medida, de nossa capacidade de integrar as novas gerações ao processo político, à formação cultural e ideológica.

Vermelho: A imprensa, em geral, não dá muito espaço para o Fórum. Desta vez está sendo assim também? Por quê?

VP: O problema é duplo: não dão espaço, mas quando dão, é para distorcer. Os motivos são variados, o principal dos quais é que eles encaram o Foro de SP como uma espécie de “internacional” que estaria por trás das conquistas da esquerda desde 1998. Há colunistas e articulistas que têm uma visão meio conspirativa das coisas. Não percebem que o grande responsável pelas vitórias da esquerda, na América Latina, é a própria direita, sua cupidez, seu conservadorismo, sua submissão aos modelos neoliberais. Foi contra isto que o povo votou, foi por causa disto que o povo votou na esquerda.

Da Redação,
Joana Rozowykwiat

5 comentários:

  1. Entrevista com Raúl Reyes (número 2 das FARC) na Folha de São Paulo em http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u62119.shtml:


    Folha de S.Paulo - O sr. conheceu Lula?

    Reyes - Sim, não me recordo exatamente em que ano, foi em San Salvador, em um dos Foros de São Paulo.

    Folha de S.Paulo - Houve uma conversa?

    Reyes - Sim, ficamos encarregados de presidir o encontro. Desde então, nos encontramos em locais diferentes e mantivemos contato até recentemente. Quando ele se tornou presidente, não pudemos mais falar com ele.

    Folha de S.Paulo - Qual foi a última vez que o sr. falou com ele?

    Reyes - Não me lembro exatamente. Faz uns três anos.

    Folha de S.Paulo - Fora do governo, quais são os contatos das Farc no Brasil?

    Reyes - As Farc têm contatos não apenas no Brasil com distintas forças políticas e governos, partidos e movimentos sociais. Na época do presidente [Fernando Henrique] Cardoso, tínhamos uma delegação no Brasil.

    Folha de S.Paulo - O sr. pode nomear as mais importantes?

    Reyes - Bem, o PT, e, claro, dentro do PT há uma quantidade de forças; os sem-terra, os sem-teto, os estudantes, sindicalistas, intelectuais, sacerdotes, historiadores, jornalistas...

    Folha de S.Paulo - Quais intelectuais?

    Reyes - [O sociólogo] Emir Sader, frei Betto [assessor especial de Lula] e muitos outros.

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  2. Hugo Chávez:

    - Conheci Lula e Raúl Reyes (número 2 das FARC) em encontro do Foro de São Paulo. Vejam o vídeo aqui: http://www.youtube.com/watch?v=dO_Lqqm9pXA.

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  3. Indio da Costa e a "não-negação" petista, porém oficial, das relações PT-FARC. Cliquem e vejam: http://www.youtube.com/watch?v=EUHuYTgeX7w.

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