William Waack também almoçou na Casa Grande
Após horas mergulhado nos telegramas da embaixada e consulados norte-americanos sobre as eleições 2010, finalmente encontrei mais algumas pérolas. Um outro personagem da mídia aparece com destaque: William Waack!
Antes de prosseguir, evitemos uma injustiça. Embora seja um pouco estranha a preferência dos diplomatas americanos por encontros exclusivamente com políticos e jornalistas de oposição, não há, nos bilhetes, nada que indique, por parte dos diplomatas ianques, ações concretas para beneficiar os tucanos. Não nessa safra de telegramas, ao menos. Quer dizer, há ações políticas bem claras, mas perfeitamente compreensíveis para políticos francamente conservadores como são os diplomatas norte-americanos. Eles não fingem ser de esquerda. Ao contrário, monitoram permanentemente os movimentos de esquerda nas Américas, como aliás mostram alguns documentos desta mesma safra. E também já sabemos, pelo Wikileaks, que Serra encontrou-se com representantes da Chevron, grande petroleira americana, e prometeu mudar as leis do pré-sal em favor de empresas norte-americanas. Pensando melhor, tiveram ações concretas sim.
O que mais vemos, nesta safra de bilhetes diplomáticos, isso sim, são caciques do PSDB e figurinhas da mídia ansiosos em angariar apoio dos diplomatas imperiais e, com isso, da Casa Branca.
Daí para ganhar doação de algum daqueles bilionários americanos de ultra-direita é somente um passo...
Por falar em Casa Branca, um telegrama da Secretária de Estado, Hillary Clinton, vazado no mesmo pacote, mostra que o governo norte-americano vinha acompanhando atentamente os desdobramentos pre-eleitorais no Brasil. Num recado bem sintético e com um quê de enigmático, Clinton observa que a diplomacia americana no Brasil tem fornecido "excelentes análises sobre a candidata Dilma Rousseff, as quais tem sido usadas para produção de documentos de alto nível para nossos formuladores de política externa".
Mas falemos do sempre sensível e franco William Waack, o âncora que nunca se preocupou em ocultar seu desconforto ao anunciar notícias tristes como queda no desemprego, aumento nos salários e crescimento econômico.
Dois telegramas do Consulado Americano de São Paulo citam Waack. No primeiro, o texto afirma que "os críticos mais duros de Dilma Rousseff enfatizam que seus discursos na TV e em público irão matar sua candidatura". Quem falaria isso? Bem, na frase seguinte, aparece um nome...
O jornalista William Waack descreveu para o Cônsul de São Paulo um evento recente em que Serra, Rousseff, [Aécio] Neves e [Ciro] Gomes participaram. Segundo Waack, Gomes foi o mais forte de todos; Neves o mais carismático; Serra um pouco frio e desinteressado, mas competente; e Rousseff a menos coerente.
Todos fortes e bons, portanto, menos Dilma...
Outros críticos, diz o texto, "foram mais sutis, usando porém uma argumentação intuitiva segundo a qual o desejo por continuidade, após anos de progresso e prosperidade, beneficiaria na verdade a José Serra, porque ele é visto por muitos como capaz de seguir melhor os rumos econômicos traçados por Fernando Henrique Cardoso e continuados por Lula."
Daí chegamos a outro nome importante da imprensa brasileira a vaticinar prognósticos triunfantes para José Serra.
Helio Gurovitz, diretor de redação da revista Época, descreveu o Brasil como similar ao Chile, argumentando que a base social do país evoluiu de maneira que iria preferir alternar partidos para manter a continuidade, mais do que deixar um só partido no poder por um longo período (...)
Finalizando esse trecho anti-Dilma, o documento do consulado informa simplesmente que "outros dizem que ela é a candidata errada na hora errada."
A melhor parte, no entanto, vem no telegrama seguinte:
O jornalista William Waack anunciou, num almoço com o Cônsul Geral [de SP] em 4 de setembro [de 2009] que Serra e Aécio haviam selado um acordo, concordando em disputar juntos a eleição, com Serra na cabeça da chapa. Um segundo participante do almoço, o diretor do Instituto FHC Sérgio Fausto, expressou surpresa diante da afirmação de Waack, mas acrescentou que FHC não iria permitir que a rivalidade entre Serra e Neves dividisse o partido.
O redator do consulado encerra o parágrafo concluindo que "uma combinação de Serra e Neves unificaria o PSDB e seria formidável."
O que teria levado Waack a fazer uma declaração tão peremptória ao Cônsul dos Estados Unidos? Ele é jornalista importante, sabe que sua palavra tem um peso especial. Uma hipótese é que a mídia, naquele momento, já havia decidido que Aécio deveria aceitar a missão de ser vice de Serra. Lembro muito bem como a imprensa do eixo Rio-São Paulo deflagrou uma campanha fortíssima (e até mesmo violenta, com sugestões porventura ameaçadoras...) para convencer Aécio. Teria o PSDB se tornado um partido de marionetes da mídia de maneira tão explícita que Waack imaginou que poderia dar por fato consumado aquilo que era apenas um anseio dos cardeais da imprensa de oposição?
Bem, nunca saberemos, a menos que algum repórter corajoso se disponha a perguntar a Waack, embora eu suspeite que este repórter ingressará, imediatamente, numa lista negra e não trabalhará mais para nenhum grande jornal...
Amiga minha sugere que Waack usava essas conversas na Casa Branca para escolher convidados e temas em seus programas de entrevistas na Globonews.
Esses vazamentos mostram que, diante do envolvimento da grande imprensa em articulações políticas com os serviços diplomáticos norte-americanos, a blogosfera é um meio bem mais confiável para divulgação de documentos secretos relativos aos... serviços diplomáticos norte-americanos...
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Leia também:
- Wikileaks: a disputa pelo PMDB, ‘partido não ideológico’, por Maria Frô.
No post anterior, há vários links para outras matérias sobre a última leva de documentos do Wikileaks.
Fonte: http://www.gonzum.com/2011/03/william-waack-tambem-almocou-na-casa.html
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