terça-feira, 10 de maio de 2011

ENTREVISTA COM O PRESIDENTE NACIONAL DO PT


Falcão: PT lançará candidaturas próprias nas principais cidades em 2012

Em entrevista publicada na revista Istoé, o presidente nacional do PT, deputado estadual Rui Falcão (SP), reafirma a prioridade do PT em 2012 em manter os prefeitos petistas atuais, ampliar o número de prefeituras e aumentar também o número de vereadores, além de lançar candidatos próprios às prefeituras das principais cidades do País, “mas sem exercer política de exclusivismo ou de hegemonia em relação aos aliados”.

Com a experiência acumulada na construção do PT, na entrevista Rui Falcão lamenta o esvaziamento dos partidos da oposição, “necessária nos regimes democráticos”. Em sua opinião, “com a crise mundial das ideias neoliberais, o PSDB perdeu o projeto e o rumo. O DEM também”.

Leia abaixo a íntegra da entrevista:

Istoé - Sua candidatura não teve o aval da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula?

Rui Falcão - Hoje, ninguém no PT seria candidato a presidente do partido se tivesse a oposição do Lula ou da Dilma. Em nenhum momento senti restrição ou objeção para que não assumisse. Ambos já manifestaram apoio e disposição de me ajudar. Já tive várias reuniões com o presidente Lula. Ele nos orienta e é um líder que todos os presidentes do PT querem manter como interlocutor.

Sua relação com a presidente Dilma é boa?

Não tenho um cotidiano com ela. Mas militamos juntos no passado, convivemos harmoniosamente na eleição e pretendo ter uma agenda com a presidente Dilma.

Por que o sr. não assumiu um cargo no primeiro escalão?

Nunca pleiteei cargo no governo. Nem tinha previsão de fazer parte do governo. Vim para a campanha com a disposição de colaborar. Não me arrependo. E as escolhas da presidente, eu não questiono. Ela escolheu muito bem. O ex-presidente José Eduardo Dutra também não estava ocupando nenhum cargo.

Quando o sr. foi preso no Sul, dividiu cela com Carlos Paixão, ex-marido de Dilma. Naquele tempo, o sr. teve contato com ela?

Quando ela saiu da prisão, passou a visitar o Carlos Paixão na Ilha das Pedras Brancas, no Guaíba, onde ele e eu estávamos presos. Então, tínhamos aquele contato do domingo, dia das visitas, e, posteriormente, nos encontramos várias vezes em Porto Alegre e em São Paulo, quando ela passou a estudar na Unicamp.

É verdade que o sr. apresentou uma lista de nomes do PT para ocupar cargos no segundo escalão?

Há um reconhecimento do PT no governo com a presença de vários ministros e da própria presidente, que nos representa a todos. Mas o PT quer mais cargos. O segundo escalão, num governo de coalizão, demanda um movimento de negociação política. Primeiro houve uma fase de arrumação do governo. Num segundo momento, aconteceu a doença do ex-presidente José Eduardo Dutra. Então, criou-se um espaço, que já está sendo retomado, por meio de um mecanismo entre um dirigente do PT, a Casa Civil e o Ministério de Relações Institucionais. Há uma lista de nomes apresentados para avaliação. Cerca de 120 nomes.

Fala-se muito na influência do ex-ministro José Dirceu na sua eleição à presidência do PT.

Nem sequer houve muita articulação. Até a segunda-feira 25 de abril, não tínhamos ainda segurança de que o Dutra iria renunciar. Nosso esforço foi para que ele continuasse. Havia a expectativa de Dutra ser demovido da ideia de renunciar numa conversa com a Dilma na quarta-feira 27. Então, meu nome foi decidido entre a quarta e a sexta-feira. E sem oposição. Não havia outro candidato. O Dirceu estava no Exterior. Nem haveria tempo para grandes articulações.

José Dirceu ameaçou se lançar candidato?

De maneira nenhuma. Ele estava no Exterior. Por essa versão, fica parecendo que, para se livrarem dele, elegeram meu nome. De jeito nenhum. Não havia necessidade disso.

Mas vocês são muito amigos. O sr. chegou a coordenar as campanhas dele. Isso significa que José Dirceu terá uma presença forte na sua gestão?

Nunca confundimos amizade com política. Mas qualquer presidente do PT gostaria de ter o apoio e a presença do Zé Dirceu, e esse é o meu caso também. Não haverá essa história de homem forte. Quero imprimir uma direção coletiva aqui com o conjunto da Executiva.

O sr. disse que, agora, é a hora de o partido se dedicar a ele mesmo, já que haverá eleição municipal em 2012.

Para eleger a presidente Dilma, o PT deixou de lançar governadores, privilegiou a eleição de senadores e abriu espaço para aliados. No próximo ano, devemos jogar peso maior no fortalecimento do PT. Isso significa manter os prefeitos que já temos, procurar ampliar o número de prefeituras que possamos governar e aumentar também o número de vereadores. É uma precondição para que o PT dispute, com favoritismo, a reeleição da Dilma em 2014. Então, é hora de fortalecer o PT.

É possível derrotar o PSDB em São Paulo, desta vez?

Sim. Primeiro por causa da fragmentação do PSDB e do DEM. Depois, porque o governo Kassab na cidade é um verdadeiro desastre. Isso favorece muito a oposição que o PT vem fazendo na Assembleia e a comparação entre os governos Serra-Kassab e o da Marta Suplicy. Em regiões onde houve um refluxo da votação petista, na eleição da Dilma nós crescemos. Sobretudo em bairros onde está concentrada a chamada nova classe média. Então, dá para quebrar essa hegemonia tucana na cidade de São Paulo. Digo até que é uma possibilidade muito grande.

Na maior parte de sua militância política, o PT era oposição. O que há com os partidos de oposição, hoje?

Primeiro quero afirmar a necessidade da existência de oposição nos regimes democráticos. Nós não estamos nos comprazendo com as dificuldades da oposição. Queremos que nosso governo seja fiscalizado e tenha uma oposição consistente, até para que as nossas propostas se afirmem com mais vigor. O PSDB perdeu o projeto e o rumo. Tem que achar outro. Como houve uma crise mundial das ideias neoliberais, quem professou essas ideias também entrou em crise e ficou sem projeto. O DEM também. Tem uma imagem negativa sucessiva, eles vão mudando de sigla, de roupa, mas a rejeição permanece. O DEM está sendo desidratado e está surgindo o PSD.

Qual o projeto do partido para a reforma política?

Além do voto obrigatório e do voto proporcional que acompanha toda a tradição da República, estamos priorizando quatro pontos: o financiamento público exclusivo das campanhas, a lista fechada preordenada democraticamente, a fidelidade partidária, o fim das coligações proporcionais e a remoção dos obstáculos que impedem a realização dos plebiscitos, referendos e participação de iniciativa popular legislativa.

O voto em lista tem apoio da sociedade?

Estamos insistindo que a lista, nos países em que ela existe, favoreceu a representação das mulheres, principalmente, e até das etnias. Se, na campanha, conseguirmos vocalizar isso, nós vamos incorporar setores que hoje estão afastados desse debate.

O financiamento público acabará com o caixa 2 de campanha?

Coíbe com muito vigor, pois será proibida, inclusive, doação de pessoas físicas. Quebra um pouco, também, o peso do poder econômico. Ajuda ainda a conter a corrupção, além de baratear as eleições, que é uma preocupação da população.

As suas campanhas tiveram caixa 2?

Na minha tudo é declarado. Andaram dizendo que eu recebi doações de três companheiros que estão envolvidos no processo do Mensalão. Trata-se simplesmente de ajuste de dobrada. Nenhum deputado federal foi generoso comigo.

Houve ou não Mensalão?

Da maneira como tentam colocar é uma versão totalmente fantasiosa. Supor que um ex-presidente da Câmara precisava receber R$ 50 mil para votar nos projetos do Lula ou que o ex-líder do governo tivesse recebido R$ 20 mil é abusar da credibilidade das pessoas. O que houve foi uma terceirização da campanha que levou, inclusive, à punição do responsável pela área que era o Delúbio Soares.

Que acaba de ser reintegrado. Essa refiliação respinga na imagem do partido?

Ainda vamos pesquisar e acompanhar ao longo dos meses. Mas eu fiquei surpreso com as mensagens positivas no Twitter.

Que recado o PT quis passar reintegrando o Delúbio? Que ele foi absolvido dos erros que levaram à expulsão dele?

A decisão do diretório nacional, por 60 a 15 e duas abstenções, acolheu o pedido de filiação, sem que isso significasse anistia nem tampouco correção da decisão anterior. Ele foi punido pelos erros políticos que cometeu e o diretório avaliou que Delúbio tinha cumprido prazo suficiente para que pudesse se filiar, dado o comportamento dele após a expulsão que não lhe vedava a possibilidade de voltar. Não tem pena perpétua no PT nem na legislação brasileira.

Revista Istoé

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