domingo, 1 de maio de 2011
O PT DO RIO E O PROJETO DE PODER
2012 como ante-sala de 2014?
O problema maior do partido, além de todos aqueles já bastante conhecidos, é não ter projeto do poder. A inexistência de um núcleo dirigente com capacidade de pensar a estratégia de poder do partido para o estado é que faz com que se discuta pontualmente cada eleição em si mesma.
A corrente majoritária do PT não tem essa capacidade, porque não tem unidade interna para tanto, se dividiu em cinco ou mais chapas no último PED e em grupos em torno de mandatos parlamentares. As demais correntes se entregam a pasmaceira partidária e, salvo uma ou outra, são campos políticos onde se envolvem também grupos vinculados a mandatos, portanto, a interesses particulares e imediatistas.
O ideal é que tivesse algum tipo de entendimento pactuado entre as correntes e suas principais lideranças, para a formulação de uma pauta política, programática e estratégica a ser debatida pela conjunto do partido. Isso é que é ser direção e ser dirigente, estimular o debate e a formulação coletiva do partido. Mesmo que não haja consenso, que se decida no voto, pelo menos ninguem vai se sentir lesado ou enganado.
O único que eu acho tem uma estratégia na cabeça é o senador Lindberg Farias, mas como está na cabeça dele, é dele, e diz respeito a ele. Se eu estou certo poderia ser uma estratégia partidária, que orientaria e politizaria o debate das eleições municipais de 2012.
Qual seja. Eleição em sí não quer dizer nada, só faz sentido quando associada a um projeto de poder, que o PT no Rio não tem. Para a construção de um projeto de poder a eleição faz parte, mas não é o único ingrediente. É importante avançar numa estratégia, que embute organização partidária, interlocução com os movimentos socias e partidos aliados, debate sobre gestão e programa, que legitime um projeto de poder e o possa tornar hegemônico.
Mas voltando a suposta estratégia de Lindberg. Ele quer construir um mandato no senado e não tem porquê ser candidato a prefeitura de Nova Iguaçu. Do Rio, mesmo que quisesse, não poderia, a lei não permite deixar a prefeitura de um município e se candidatar imediatamente num município contíguo. Logo, a estratégia dele está voltada para 2014, quando termina o segundo mandato de Cabral e o primeiro de Dilma. O primeiro (Cabral) deixa um vazio político nas suas hostes, pois não tem um sucessor natural - já que Paes se reeleito não tende a largar a prefeitura -, vai tentar emplacar o "famoso" Pezão, a segunda (Dilma) deve concorrer a reeleição. Se até lá a coisa não estiver boa, sabemos a quem recorrer.
Portanto, todo o discurso de Lindberg, a política de boa vizinhança e até com demonstrações de apreço a Cabral e a Paes, está dentro desta lógica. Se com tal postura não atrairá o apoio deles para 2014, pelo menos incide positivamente sobre o eleitorado que os admira e colhe amigos, ao invés de desafetos e inimigos. Agora, eu não me atrevo a discutir eleição com Lindberg, o homem sabe tudo do assunto, o problema dele é gerencial, espero que o senado o ajude amadurecer essa parte.
Eu acho Eduardo Paes uma lástima. Um político de laboratório, do mesmo de onde sairam Indio da Costa, Rodrigo Maia, Guaraná ...a jovem e pragmática direita carioca. É conservador e elitista, a sorte dele é o seu antecessor e preceptor ser um desastre, mas a lógica e as alianças sócio-econômicas que orientam as duas gestões são as mesmas A diferença é que o prefeito é mais dinâmico, construiu sólidas relações com os governos estadual e federal, e abriu espaço para a esquerda no seu governo, algo impensável com o seu antecessor. Mas acho pequena a hipótese dele perder a reeleição, ainda mais com o apoio certo de Cabral, e provável de Dilma e de Lula. Principalmente em tempos de Copa do Mundo e Olimpíada, e caso a disputa se polarize com uma candidatura apoiada pelo esquema DEM-PSDB-PPS-PV.
Eu não sei o que Lindberg acha do Paes, para além do que ele declara para a imprensa, mas sei que ele partilha da mesma análise que eu sobre o processo eleitoral do Rio Acho também que como a perspectiva dele é 2014, as eleição de 2012 são encaradas como preparação para o momento que ele pretende ser o protagonista. Logo, ele tende a defender, o que eu acho bastante razoável, que a tática municipal do partido esteja alinhada a contribuir para 2014. Inclusive a sucessão da capital. Isso não descarta algumas exigências programáticas e de alianças que o partido deve fazer para condicionar apoio a quem quer que seja, que pretenda se aliar. Inclusive ter alternativa ou respeitar as alternaticas de candidaturas próprias que se apresentem ao partido e com elas buscar o diálogo, na perspectiva de uma construção unitária. É patética aquela foto do jornal O Dia sobre a corrida dos candidatos a vice do PT. Isso apenas nos desvaloriza, antes a corrida era entre os pretendentes do PT à prefeitura ou ao governo, agora é a vice, mas a gente se permite a isso!
O problema é que me parece que isso está cristalino na cabeça do Lindberg, e poderia ser uma estratégia de poder partidário, caso o partido discutisse tal questão com a seriedade necessária. Eu acho que o Luiz Sérgio tem clareza também, mas com variáveis que em algum momento podem se chocar com o que preconiza Lindberg.
Mas para virar um projeto com protagonismo partidário, e deixar de ser coisa a apenas da cabeça do Lindberg e quem sabe do Luiz Sérgio, e daqueles mais próximos a ambos, portanto, restrito a legitimos projetos particulares, deve-se enfrentar uma discussão coletiva que envolva estratégia, tática, programa, gestão, reconstrução das relações com os movimentos sociais, identificação de possíveis aliados partidários e sociais etc etc. Os projetos de poder são assim mesmo, podem esta na cabeça de uma ou outra liderança, mas podem ser assumidos e qualificados pela estrutura partidária. É so querer...
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