quinta-feira, 9 de junho de 2011

SAI PALOCCI, QUEM SERÁ O PRÓXIMO?

A grande mídia pode muito, mas não pode tudo

Após a queda de Palocci, eu observo várias indagações sobre quem será o próximo ministro a ir para o sacrifício, por conta das artimanhas e aleivosias perpretadas pela mídia na ânsia de combater o governo Dilma. A conclusão que eu retiro disso é que quem faz tal indagação, opera com o pressuposto de que a mídia pode tudo, inclusive fazer acusações inconsistentes e atingir os seus objetivos com isso. Esta pelo menos é a forma com que os defensores do ex-ministro Palocci tratam o episódio que precipitou a sua demissão. Um grande engano.

É fato que a principal mídia brasileira, diante da fragilidade dos partidos com os quais se identifica, assumiu o papel de vanguarda de oposição ao governo Dilma, como o fez em relação ao de Lula, nesse sentido cumpre com zelo a tarefa de levantar e alimentar aqueles partidos de informações que criam algum tipo de constrangimento para o governo federal.

Do ponto de vista programático o trabalho é diário, ora manipulando informações através de manchetes e chamadas de capa dos jornais, bem como os números da economia brasileira, ora insistindo no terrorismo da expectativa de aumento da inflação, mesmo quando ela dá sinais de queda, ora na cobrança sobre o governo para que ele radicalize na adoção de um ajuste fiscal, que estabelaça cortes em recursos para obras, projetos, programas sociais e contratação de equipamentos e pessoal para a máquina pública, para garantir mais recursos e incorpar o nosso já corpulento superavit primário, uma das fontes de recursos destinados a remuneração dos títulos da nossa dívida interna pública, que, como se sabe, a maior parte está em poder de fundos de investimentos e instituições financeiras, enfim do chamado mercado.

Por conta desta operação econônomica e dos altos juros praticados no país, como reconhece o próprio Lula, os ricos nunca ganharam tanto quanto ganharam no seu governo. E a nossa mídia plutocrata é a bastiã da defesa de tais interesses. Não é birra, mero preconceito - já que agora não é mais um operário que ocupa a presidência - é uma questão ideológica, classista, em relação ao PT, a esquerda brasileira, que os nossos adversários revelam ter mais clareza do que muitos de nós. Se tornar rico no Brasil, com o se tornou Palocci, não pode ser tratado como mera obra do acaso, reconhecimento de competência, mas como um processo de aceitação e/ou cooptação, principalmente quando a origem de tal riqueza vem da generosidade da própria plutocracia brasileira.

Agora, uma coisa é a mídia buscar assunto para colocar o governo Dilma contra a parede, do ponto de vista da postura pública e privada, comportamento, vida pregressa dos seus principais assessores, mas para que isso vingue, ela precisa de material que sustente tal denúncia, consistência, caso contrário ela cairá no esquecimento como tantas outras cairam. Até porque com o ampliação da presença e poder de difusão de informações das chamadas redes sociais e a presença de outras mídias "não tão hostis" que na campanha eleitoral fizeram contraponto às Organizações Globo, como Record e SBT, porque têm interesses comerciais junto ao governo, o monopólio de informação que aquela organização e das demais que a seguem, não possuem o mesmo peso de outrora.

Então quem será o próximo? Após os episódios de 2005, onde errou-se muito no PT, a começar pelos que acharem que Roberto Jefferson e Marcos Valério eram interolutores confiáveis, não dá para atribuir tão-somente ao papel da mídia - já que caixa 2 é usual mas é ilegal -, não me recordo quando, graças as pressões exercidas pela mídia, o governo Lula demitiu algum ministro. Salvo, é claro, Erenice Guerra, porque as denúncias contra ela possuiam sustentação, não eram retóricas, e estava-se no desfecho do primeiro turno da eleição, o que exigia do governo uma resposta rápida para a opinião pública.

Ao longo do governo Lula, não faltaram pressões de toda ordem contra Mântega, cuja filha foi acusada de tráfico de influência, contra Lula e seus filhos, contra Franklim Martins, que se tornou o alvo principal da grande mídia, contra o Hadad, da Educação, e tantos outros. Claro que, a exceção de Martins, os alvos eram e sempre serão ministros petistas, pois dão repercussão, já que o partido era a principal sustentação do governo Lula, da mesma forma que será no de Dilma, e o que mais cresce no país.

Com efeito, não vamos confundir alhos com bugalhos, pois pressões exercidas em relação a ministra Ana de Hollanda são programáticas e partilhadas por gente que está na base de apoio do governo e do PT. E quanto a isso a posição da grande a mídia é dúbia, pois estão envolvidos no debate sobre a reforma da legislação do direito autoral e do Ecad, interesses diretamente vinculados a gravadoras e editoras que com ela (a grande mídia) têm proximidade comercial quando não são associadas. Logo, a posição da grande mídia neste tema vai depender para que lado vão o debate e Ana de Holanda. Da mesma forma que com Paulo Bernardo, em função dos interesses que estão envolvidos em torno do ministério que ele pilota. Aí é a grande mídia fazendo política e defendendo os seus interesses corporativos.

Enfim, quem será o próximo? Certamente buscarão que seja do PT, pelas razões já expostas, e só vingará se houver consistência.

No caso do Palocci há um erro de origem que a auto suficiência própria do poder, não permite que seja reconhecido. No afã de colocar num cargo chave do governo, um político pelo fato dele ter amplo trânsito junto ao mercado financeiro e ao empresariado brasileiro, imaginou-se que ele estaria blindado da sanha dos principais adversários do governo Dilma, já que sendo amigo desses setores e sabendo-se da influência que esses setores têm sobre a mídia não haveria problemas para o governo, pelo menos nesta área. Pois, como bem destacou o dirigente petista Francisco Rocha, o Rochinha, num artigo em defesa de Palocci, ele era amigo dos caras.

Com isso, a cúpula do governo substimou o efeito explosivo que poderia ter o fato do seu ministro, e ex-ministro da Fazenda do governo Lula, já marcado por uma demissão em função do escândalo do vazamento do sigilo bancário de um caseiro - que apesar da absolvição do STF por falta de provas, foi confirmado recentemente -, ter enriquecido da noite pro dia - sim, porque os pagamentos pelos serviços de quatro anos vieram todos no mês de dezembro - prestando consultoria a algumas das maiores empresas privadas que atuam no país e que possuem interesses comerciais que são influenciados por decisões políticas do Estado brasileiro.

Esqueceram da fábula do sapo e do escorpião

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