quinta-feira, 30 de julho de 2009

O QUE SE ESPERAR DESTE PED?

Um PED para enxugar gelo?


Cada vez mais me convenço da correção da proposta de adiamento da realização do PED-Processo de Eleições Diretas do PT, para 2011, após as eleições do ano que vem, quando o quadro de forças externas e internas ao partido estiver desenhado, de preferência vitorioso na disputa presidencial e com desempenho ascendente nas demais disputas eleitorais. Mas a proposta apresentada por representantes da tendência Articulação de Esquerda em reunião do Diretório Nacional do PT, não contou com adesão das demais correntes internas do partido e foi rechaçada.


Digo isso, porque o necessário debate estratégico, organizativo e programático do PT, diante de tantas novidades no contexto político nacional e internacional, onde, no primeiro caso, se destaca a experiência de governar o país ao longo de oito anos e, no segundo, a crise econõmica e financeira que coloca em ]xeque a lógica mercantil que viceja ( e governa) no mundo há cerca de três décadas, está sendo superado pelo não menos necessário, porém insuficiente, debate tático relacionado ao calendário e ao processo eleitoral que se avizinha.


Como se sabe muito bem, a correlação de forças pós PED no PT, não tende a sofrer profundas transformações, e o governo Lula e o próprio, ainda permanecerão incidindo fortemente sobre as escolhas partidárias. A meu juizo, o sentido da realização do PED este ano se insere no contexto das acomodações internas, inclusive no interior das correntes, e em função do investimento em novas filiações que elas realizaram dentro do calendário definido pelo congresso nacional do partido. Adiá-lo, por sua vez, consistiria em ver todo esse esforço ser jogado fora, além da incerteza sobre o impacto que o resultado eleitoral de 2010, seja ele qual for, teria sobre a disputa interna do partido. Aí sim, poderia se operar mudanças de maior profundidade no interior do partido,


O que está cada vez mais claro neste PED é que além da inevitável hierarquização do debate tático, institucional e eleitoral, por conta da alta temperatura prevista para disputa que haverá em 2010, as composições ou dissensões internas entre a maioria das correntes, campos e lideranças políticas do PT, obedecem a aquelas acomodações, ou estão relacionadas as disputas majoritárias estaduais, a reprodução de mandatos e, para serem coerentes e dar vazão a tais objetivos, a ocupação ou maior acesso junto aos aparatos de governo, sejam eles nacional, estaduais e municipais.


O debate estratégico e organizativo que alguns podem erroneamente rotular de internista e doutrinarista, mas que corresponde não só a atualisar os objetivos de curto e longo prazos do partido à luz do atual período histórico, sua relação com os movimentos sociais que ainda se mantém como o principal diferencial do PT perante os demais partidos, inclusive os do campo democrático e popular, e como dotá-lo de condições políticas e organizativas, para atrair para a sua esfera de influência partidária, parcela de milhões de brasileiros e brasileiras que se seduziram pela realizações concretas e simbólicas do governo Lula, nesses termos nos quais será realizado o PED, está inexoravelmente adiado.


Com efeito, o que hoje move o partido no PED é, primeiro, observar as definições de Lula, Dilma Rousseff e da cúpula do partido em direção a 2010, para depois saber se em Minas Gerais o PT vai de candidatura própria e quem será o candidato, ou se vai apoiar o PMDB, se em São Paulo é candidatura própria ou apoio à Ciro Gomes, se no Rio é Lindberg Farias ou o apoio à reeleição de Sérgio Cabral, se em Pernambuco o candidato do PT ao senado é o ex- prefeito João Paulo ou o ex-ministro Humberto Costa, qual o candidato e de que partido o PT irá apoiar no Paraná, no Maranhão, em Goiás, Mato Grosso do Sul etc etc. E nos estados onde a tática eleitoral majoritária está melhor encaminhada, mas não só neles, a composição de dobradas para a disputa de mandatos proporcionais e a ampliação de apoios que elas obterão a partir de tais composições.


Não é por acaso que o quadro de apoio e composição de forças do último PED, ocorrido há dois anos atrás, para o atual, em tão pouco tempo sofre modificações, algumas no plano ideológico que se pode considerar exdrúxulas. Exemplo disso é na Bahia, quando uma corrente regional que há pouco se situava no campo da esquerda do partido, faz um giro de cento e oitenta graus para apoiar a candidatura de José Eduardo Dutra, da CNB. Ou quando no Estado do Rio, a Mensagem, que surgiu com o ideário de refundar as práticas políticas do partido, se divide em duas chapas e entre uma candidatura a presidência estadual do partido própria e ao apoio a um candidato da mesma CNB, ou ainda o Movimento PT, no mesmo Estado do Rio, se divide entre duas candidaturas presidenciais, uma oficial e outra dissidente da CNB, tendo como pano de fundo acordos relacionados a tática eleitoral majoritária e proporcional.


Embora não tenha aqui o cenário nacional de composições estaduais com vistas a disputa do PED, impulsionadoas pelos referidos interesses imediatos e eleitorais, situações semelhantes podem, poderão ocorrer ou ocorrem nos demais estados.


Na disputa nacional, a chapa que obteve a segunda maior votação no PED passado, inclusive na disputa presidêncial, se dividiu entre o lançamento de uma candidatura própria à presidência nacional do PT, do deputado federal Geraldo Magela (PT-DF) e o apoio ao candidato da CNB, o presidente da Petrobrás Distribuidora, José Eduardo Dutra (PT-SE). O campo Mensagem, dividido até a última hora entre ter uma candidatura própria e apoiar o candidato da CNB, se definiu pela primeira opção, e lançou novamente o deputado federal, José Eduardo Cardoso (PT-SP). A esquerda socialista do PT finalmente se unficou em torno de uma chapa comum e da candidatura a presidência da deputada federal Iriny Lopes (PT-ES), a única mulher na disputa.


Para muitos o PT é isso o mesmo, "para enxugar gelo", um partido eleitoral que se move pela conquista de parcela de poder sem questionar a natureza de tal poder, e sequer ambicionar mudá-lo numa perspectiva transformadora. Apenas para exercê-lo e quando possível torná-lo menos injusto para os "de baixo". Como se fosse possível efetivamente conquistar tal objetivo, sem se forjar um partido dirigente, capaz de construir alianças políticas e sociais, e através da execução de um programa político realizar mudanças profundas na natureza desse poder.


A impressão que fica até o momento, a despeito do esforço de resistência que setores do partido empreendem, é que para esse debate, no PED que será realizado esse ano, a militância petista não será convidada. Quem sabe no próximo PED?

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