segunda-feira, 31 de agosto de 2009

PED DO RIO: UMA REVELAÇÃO DE FRAGILIDADE

O mosaico do PED no Rio*

Vencido no último dia 24 de agosto, o prazo de inscrição para a disputa dos PEDs estaduais, o PT do Estado do Rio de Janeiro com seus cerca de 100 mil filiados – cresceu em 30 mil em relação ao PED anterior -, 5 candidatos a presidente e 14 chapas é uma irrefutável revelação da fragmentação partidária, onde a tônica da formação de chapas e candidaturas, reflete interesses eleitorais e de acomodação de grupos e personalidades, no interior da máquina partidária, ao invés de projetos em disputa para a direção do partido, com ênfase na sua construção e organização, e na elaboração de um projeto político para a disputa de protagonismo na cena política do Estado do Rio de Janeiro.

Este cenário explica em boa medida os recorrentes maus desempenhos do partido em disputas majoritários no Estado, e na sua capital, e a sua perda de influência social, a despeito da boa avaliação que o governo Lula e que o próprio PT têm no Estado do Rio, mas que não se revertem em votos no processo eleitoral ou nas chapas representadas por petistas nos processos de disputa pelas direções dos principais sindicatos do Estado, onde os maiores inclusive estão fora da CUT e os petistas são minoritários

E não se revertem para o partido, por falta de política e de direção política sequer capaz de reunir o seu diretório e executiva com regularidade e dessas reuniões produzir resoluções e orientações políticas para o conjunto do partido. Há muito o PT no estado experimenta direções incapazes de dotar o partido de um núcleo dirigente, apenas pródigas em articulações de bastidores na esfera institucional, que são conduzidas por posições não construídas coletivamente pela direção partidária estadual, mas a partir de leituras por vezes equivocadas ou de meras reproduções das declarações de dirigentes nacionais do partido.

Com a realização do PED às vésperas das eleições de 2010, tal quadro se agrava, pois se a conjuntura do país já está contaminada pela sucessão presidencial, às acomodações políticas em busca de espaço no interior do partido, se juntam às eleitorais, tanto na disputa do poder executivo estadual, onde partido está dividido entre lançamento da candidatura própria do prefeito Lindberg Farias ao governo do estado, e o apoio a reeleição do governador Sérgio Cabral, quanto na reprodução de mandatos proporcionais.

A falta de unidade e confiança política interna, presente numa das suas maiores correntes, a CNB, que possui três candidatos a presidente estadual do PT, o deputado federal Luiz Sérgio, o atual vice do partido, Lourival Casula, e Bismark, aliada a uma certa esperteza matemática para ocupação proporcional de espaços nas direções, e de captação de apoios para suas diversas candidaturas proporcionais, fez com que ela se dividisse em cinco chapas.

Três destas chapas – “No rumo certo”, “Fórum CNB” e “Em defesa do projeto nacional” - operam a partir da tática de apoio à reeleição de Sérgio Cabral, e as demais - “Um partido para todos” e “Partido que vai mudar o Rio”- sinalizam apoio a candidatura de Lindberg Farias. Estão em chapas separadas lideranças da CNB como os deputados estaduais Gilberto Palmares (Fórum CNB) e Rodrigo Neves (Um partido para todos), Benedita da Silva (Fórum CNB), o ministro Édson Santos (Partido que vai mudar o Rio) e o deputado federal Luiz Sérgio (Em nome do projeto nacional). Separados, em alguns casos, como pode ser verificado, em função de táticas eleitorais conflitantes.

Enquanto as três primeira apóiam Luiz Sérgio à presidente estadual, as demais lançaram, respectivamente, as candidaturas de Bismark e Lourival Casula. O primeiro conta ainda com o apoio da chapa “Lindberg Governador”, liderada por Vladimir Palmeira, Washington Quaquá, prefeito de Maricá, e Antonio Neiva, que em nível nacional integra a chapa “Esquerda Socialista”, e, o segundo, é apoiado pelo próprio prefeito de Nova Iguaçu. Em comum às cinco chapas da CNB, apenas o apoio a candidatura de José Eduardo Dutra presidente e á chapa nacional.

A contaminação da disputa interna do PT pela conjuntura eleitoral de 2010 é elevada ao paroxismo, não só pela existência das chapas “Lindberg Governador” e “Em defesa do projeto nacional”, esta liderada por Luiz Sérgio e pelo atual presidente estadual do partido, Alberto Cantalice, um entusiasta do apoio à Cabral, mas por inspirar a composição de outras chapas, resultantes de divisão de correntes nacionais, como a Mensagem ao partido e o Movimento PT.

A Mensagem, que não logrou unidade nacional para apoiar um candidato da CNB à Presidência Nacional do PT e lançou o deputado federal José Eduardo Cardoso, no Rio experimentou essa tática, rachou e não se pode assegurar quem terá melhor desempenho no PED.

Um setor “rebelde” (Chapa Mensagem Voz Ativa-Rio), liderado pelo deputado federal Jorge Bittar – Secretário Municipal de Habitação do governo Eduardo Paes - e pela DS - que participa da secretaria de Bittar - e pelo deputado Alessandro Molon – que se recusou a fazer indicação seja para o governo estadual, seja para o municipal - fez o que a corrente em nível nacional não conseguiu: apóia o candidato da CNB, Luiz Sérgio. Além disso, se situa no campo de apóio a reeleição do governador Sérgio Cabral.

O outro setor “oficial”(Chapa Mensagem ao Partido), liderado pelas tendências Campo Democrático (deputada federal Cida Diogo e vereador Adilson Pires – Rio), Democracia Popular e pelo deputado federal Biscaia, instado pela coordenação nacional da Mensagem, lançou candidatura própria a presidente estadual do partido: do vereador Waldeck Carneiro (Niterói). Apesar de não manifestar com clareza a sua tática eleitoral, é conhecida a existência de posições diferentes sobre o tema no seu interior. Ambos apóiam a candidatura de José Eduardo Cardoso e a respectiva chapa nacional.

O Movimento PT, da mesma forma, se dividiu entre um setor liderado pelo deputado federal Carlos Santana (Opção Popular em Movimento) e por outro (Movimento Ousadia e Luta), que na corrente ingressou recentemente, identificado com o deputado federal Chico D’Angelo e com o ex-prefeito de Niterói, Godofredo Pinto. Além das evidentes disputas pela reprodução de mandatos, no interior da corrente, há divergências em relação à tática eleitoral majoritária que envolve candidaturas ao governo e ao senado. Não temos informações de como estão posicionados na disputa nacional,em relação ao apoio tanto a Geraldo Magela, candidato a presidente do PT, quanto à chapa.

Dentro deste mosaico existe ainda a chapa Esquerda Socialista que lança o vereador André Taffarel (Mesquita) à Presidência Estadual do PT, formada por militante da AE e independentes, articulada com a chapa nacional do mesmo nome e com a candidatura de Iriny Lopes à Presidência Nacional do PT, que busca dentro das suas dificuldades políticas e organizativas e da primazia da lógica eleitoral que move a disputa interna do partido, expressar uma outra embocadura ao PED que envolva debates sobre organização e estratégia partidárias, mas que se perfila na defesa da candidatura de Lindberg Farias ao governo do Estado do Rio de Janeiro.

Além desta, há a chapa da corrente O Trabalho, que dispensa maiores esclarecimentos, e duas chapas locais: “Ética, Democracia e Socialismo”, formada por militantes do PT de Nova Iguaçu, com a qual a chapa Esquerda Socialista buscou sem sucesso um acordo para disputarem juntas o PED - mas mantêm boa relação política - e que apóia a candidatura de Lindberg Farias; e “Comunidade de Base”, lançada por militantes do PT do município de São Gonçalo, sobre a qual não temos maiores informações.

Além desse mosaico geral há os internos de cada chapa, ora em relação à candidatura presidente do PT estadual e nacional, ora a tática eleitoral - se candidatura própria ou apoio a reeleição de Cabral - que, neste último caso, podem sofrer oscilações e/ou mudanças a depender do grau de interferência da cúpula do PT e do presidente Lula em tal definição.

*Artigo originalmente publicado em formato resumido, na edição de setembro do jornal Página 13

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