quarta-feira, 21 de outubro de 2009

ATÉ A FOLHA ACHA QUE A VALE DEVE MUDAR

Lula tem o dever de debater rumo da Vale

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

O presidente da República está certo ao querer discutir as diretrizes da Companhia Vale do Rio Doce. A Vale é uma empresa privada que tem bastante capital de origem pública. Os fundos de pensão de estatais federais e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) são sócios da companhia.

Mais do que isso: ela explora riqueza naturais não-renováveis. De acordo com a Constituição, no artigo 20, "os recursos minerais, inclusive os do subsolo" são "bens da União". A Vale, portanto, explora essa riqueza por meio de autorização da União.

Isso significa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem o direito de derrubar o presidente da empresa? Que deve discutir detalhes da administração cotidiana?

Não.

Mas o presidente da República tem o dever, de acordo com a sua consciência e em respeito aos votos que recebeu, de debater com a empresa os seus rumos, caso julgue que uma inflexão em sua atuação possa ser mais benéfica ao país.

Dizer que o PT quer tomar a empresa de assalto com o objetivo de arrumar recursos para a campanha eleitoral de 2010 é desinformação. A gestão Lula tem sido uma mãe para os mais ricos. A elite empresarial brasileira está bastante disposta a contribuir para a eventual campanha presidencial da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Os problemas, no caso petista, são filtrar o excesso de oferta privada e desautorizar operadores oficiosos que vendem uma importância no governo que não possuem. O risco de Dilma é abrir a porteira para todo tipo de contribuição financeira. Mas isso será assunto de outra coluna, com mais detalhes ainda em apuração.

De volta à Vale, é importante levar em conta que uma gestão privada não deve ser atrelada ao desejo do presidente de plantão. No entanto, é bom o argumento de que se trata de uma empresa que atua em área estratégica para o desenvolvimento do país. Faria mal um governo que desconsiderasse isso.

É ótimo que, desde a privatização em 1997, o número de funcionários da Vale tenha passado de 10 mil para 60 mil. Muito bom que seu valor de mercado tenha subido de US$ 8 bilhões para US$ 125 bilhões.

Certamente, o resultado foi excelente para os acionistas e para o Tesouro, para quem a mineradora pagou mais imposto. Mas essa performance não poderia ter sido ainda melhores?

No caso da MMX, da empresário Eike Batista, a rentabilidade em relação a cada real aplicado nos últimos três anos foi duas vezes superior à da Vale. Ou seja, os números dizem muito coisa, mas não tudo.

O assédio político à Vale deve ser combatido, mas a empresa precisa levar em conta os interesses estratégicos do país. Não é absurdo pedir que a Vale invista em siderurgia e que trate de agregar valor aos produtos que explora. Esse é um debate que interessa aos brasileiros.

*Composição acionária

A Vale é controlada pela Valepar, que tem 53% do capital votante da companhia. Na Valepar, o consórcio de fundos de pensão possui 49% das ações. A BNDESPar tem 11,5%. O Bradesco, 21%. E o grupo japonês Mitsui, 18%. Os números estão arredondados.

Um acordo de acionistas dá ao Bradesco o direito de gestão. Roger Agnelli, presidente da Vale, foi indicado pelo banco. Mas a soma do capital votante dos fundos de pensão e do BNDES autoriza esses a influenciar os rumos da empresa.

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