sexta-feira, 9 de julho de 2010

A AGENDA ELEITORAL E A DAS PESQUISAS (2)

A "ditadura" das pesquisas eleitorais

Em resposta a um comentário, transcrito nesta postagem logo após esta argumentação que ora desenvolvo, feito pelo amigo e leitor Luiz Carlos França, sobre o artigo "A agenda das pesquisas e a das eleições" (clique aqui), que trata da "ditadura" das pesquisas sobre a condução e a percepção pública do processo eleitoral em curso, numa clara inversão, quando o segundo (o processo eleitoral) é que deveria nortear a primeira (as pesquisas), considero que o referido comentário responde de forma parcial as assertivas presentes naquele artigo, ao mesmo tempo em que justifica o ponto de vista que ele (o artigo) preconiza. O autor reconhece a importância das pesquisas, mas defende que elas sejam colocadas no seu devido lugar, como acessório ao invés de determinantes da agenda eleitoral.

Haja vista que Luiz Carlos França enfatiza a tese que a eleição já começou há muito tempo, e que as pesquisas refletem isso. Ora, como imaginar que num país com a dimensão continental e populacional como o Brasil, uma campanha pode começar de fato e a percepção da maioria do eleitorado sobre ela, sem o ingresso neste processo das campanhas e mobilizações de rua em torno das várias eleições a um só tempo disputadas em 2010. Como aferir as opções do eleitorado antes de se iniciar o horário eleitoral gratuito de rádio e tv, quando o eleitor vai ter oportunidade de conhecer melhor as candidaturas e as suas propostas?

Não há como se formar uma opinião pública sólida e as pesquisas registrarem com razoável margem de segurança as opções do eleitorado, antes que todas as peças começem a participar do jogo eleitoral. Os institutos de pesquisa têm basicamente dois interesses comuns a qualquer empresa: a rentabilidade e a disputa de mercado. A despeito das diferenças de estilo e de análise de Carlos Augusto Montenegro e Marcos Coimbra, naqueles pontos os seus interesses coorporativos são semelhantes e legítimos. Quanto antes os seus institutos forem contratados para realizarem pesquisas eleitorais melhor

Basta lembrar que em 1994 a candidatura de Lula liderava todas as pesquisas, revelava condições de vencer no primeiro turno, expressava a esperança após os desastrosos governos Sarney e Collor de Melo, mas quando o jogo eleitoral começou de fato, o real derrotou as pretensões de Lula, logo no primeiro turno e elegeu Fernando Henrique. Naquela época, em 1993, as caravanas da cidadania, lideradas por Lula eram ou não eram prenúncios de que a campanha também já havia começado há muito tempo? Lula e Collor, em 1989, patinavam nas pesquisas iniciais, mas disputram o segundo turno. A capacidade de mobilização partidária e social de campanha e o horário eleitoral "gratuito" de TV conferiram dimensão popular as suas propostas e programas eleitorais.e de posse de tais informações o eleitorado fez as suas opções. Se na primeira predominou a economia, na segunda a política e a luta de classes na sua dimensão eleitoral.

O que Luiz Carlos França confunde é a análise da conjuntura política em que se realiza o processo eleitoral que ele denomina "realidade concreta", que ele e tantos outros fazem, a partir dos índices de aceitação do governo Lula e do próprio presidente, e o seu efeito sobre a candidatura govenista de Dilma Rousseff, e sobre as forças de oposição, e a candidatura de José Serra; com a sedimentação da definição, não da tendência, mas da opção do eleitorado registrada nas pesquisas realizadas antes de iniciado o processo eleitoral propriamente dito.

Se o distinto público ler nas pesquisas um pouco além dos percentuais quantittivos que ela divulga ,isto é, os pesquisados indecisos - uma boa parte não está ligada ainda no procosso eleitoral - , que pode mudar de voto - pois para muitos não ha clareza ainda sobre o que representa cada candidatura -, da rejeição - que em boa parte é por desconhecimento -, vai constatar que o processo há muito começou para poucos, mas ainda não envolveu as maiorias eleitotais.Tal nível de indefinição da maioria do eleitorado é um terreno fértil para eventuais manipulações, justificáveis do ponto de vista técnico, nos resultados aferidos pelas pesquisas

Ora, que a candidatura de Dilma não ficaria no patamar de 8 ou 10% em que estava no final do ano passado, tendo como ponto de apoio um partido que parte do patamar de 30% da preferência popular, um governo e um presidente muito bem avaliados,e que os índices inicias de Serra revelavam o maior conhecimento do eleitor sobre um político bastante rodado, saído de disputa eleitorais recentes, era bastante previsível. E que cada eleição tem a sua própria história, os seus próprios personagens, que com o instituto da reeleição algumas vezes se repetem, também é óbvio.

Agora, determinar o desfecho de um processo eleitoral a partir de cada pesquisa divulgada, antes de iniciadas as mobilizações eleitorais de rua, da sua difusão nos diversos veículos de informação e no horário eleitoral "gratuito" de rádio e tv, que tornam possível as maiorias eleitorais sedimentarem as suas opções de voto, é um equívoco que só leva a desmobilização, ao "salto alto" e a consequências desastrosas.

Comentário de Luiz Carlos França


A tua análise tem alguns problemas quando se confronta com a realidade concreta. Em primeiro lugar, ao não considerar as características específicas de cada campanha, chega a uma conclusão geral sobre o papel dos candidatos e da campanha de televisão que não se aplica a todas as campanhas e que, certamente, não se aplica a esta que estamos vivendo.

Tentando ser específico, e corroborando tese já defendida há meses por Marcos Coimbra, do Vox Pópuli, o pano de fundo das eleições de 2010 é a continuidade ou não das políticas desenvolvidas pelo governo Lula. Dado o nível recorde de aprovação e de satisfação da população com o governo, o que definirá a principal tendência da eleição é o nível de conhecimento da população de quem representa a continuidade. É isso que explica que Dilma tivesse no final do ano passado cerca de 6 a 8% nas pesquisas e agora está com 40, e Serra que tinha 42/44% em dezembro e tem 35 agora. É isso que explica que Lula venha caindo paulatinamente na pesquisa espotânea.

Vamos a um exemplo: no final de 1993, Lula, saído das caravanas da cidadania, aparecia com mais de 40% nas pesquisas e a direita não tinha nem candidato. Em maio de 1994 discutia-se se Lula ganharia no primeiro turno ou se haveria a segunda rodada. Bastou entrar em campo a URV e o plano real e o quadro se transformou rapidamente, antes da entrada da campanha na TV. O que aconteceu depois todos sabemos, a direita elegeu um poste.

Outro problema, que em parte é derivado do primeiro, é não entender que a campanha já começou há muito tempo e que as pesquisas fazem parte dela. Senão como entender a manipulação de algus institutos, inflando a campanha do Serra no final de abril, às vésperas do lançamento da candidatura demotucana, e agora no final de junho antes do início da campanha oficial, num momento em que as pesquisas dando Dilma 5 pontos à frente de Serra estava provocando crises e debandadas nas hostes da oposição.

Por fim, e não venha me acusar de salto alto, pois sou daqueles que acham que a campanha vai ser dura, que a direita e a mídia hegemônica vão usar de tudo, aliás é de sua tradição o golpismo, cito os Maia e o insuspeito Merval Pereira. Os primeiros, pai e filho, admitiram, num raro momento de franqueza, que a vaca teria ido para o brejo. Merval diz que só nossos erros podem garantir a vitória deles.

Luiz Carlos França.

Nenhum comentário:

Postar um comentário