quinta-feira, 26 de agosto de 2010

ELEIÇÕES 2010 E OS PERIGOS DA EUFORIA

Os perigos da euforia

Por Wladimir Pomar

As recentes pesquisas eleitorais continuam apresentando Dilma em processo de ascensão. Aparentemente, a continuar nessa rota, a candidata do PT estaria em condições de obter a vitória no primeiro turno. Porém, essa aparência, como já reiteramos em comentário anterior, pode ser fatal para a campanha petista, por vários motivos.

Se olharmos as pesquisas com mais atenção, veremos Dilma em crescimento, Serra em queda e Marina, assim como os demais candidatos, em situação estável. A queda de Serra está associada à subida de Dilma, devendo significar que a natureza direitista e reacionária da candidatura do PSDB-DEM está vindo à luz, e que seu falso discurso de continuidade do governo Lula não colou.

Portanto, podemos deduzir que Dilma ganhou pontos principalmente entre os indecisos, entre os que estavam acreditando no discurso continuísta de Serra, e entre aqueles setores da classe média que ainda acreditavam que o PSDB é um partido social-democrata. No entanto, a candidatura Dilma ainda não abalou a candidatura Marina, onde se encontra uma parte da esquerda, embora Marina também esteja em dificuldade para manter seu discurso de continuidade do governo Lula.

Nessas condições, talvez seja a primeira vez, nas campanhas eleitorais presidenciais desde 1989, que o PT tem chances não só de vencer, mas de vencer no primeiro turno. Isto, que apresenta um aspecto positivo, por não obrigar o partido a rebaixar ainda mais seu programa eleitoral, também apresenta o aspecto negativo de levar os candidatos dos partidos de sustentação da candidatura Dilma – a governador, senador e deputado – a suporem ganha a parada presidencial e se voltarem totalmente para suas próprias campanhas.

Aliás, quem quer que se dê ao trabalho de acompanhar o horário eleitoral na televisão pode notar que até mesmo muitos candidatos do PT tiraram a imagem de Dilma de suas apresentações. A preocupação maior vem sendo colocar Lula ao lado, a fim de angariar votos para suas próprias candidaturas. Se a leitura das últimas pesquisas eleitorais levar à euforia do ‘está ganha a presidência’, mesmo que teoricamente isto seja negado, o ritmo da campanha presidencial tende a baixar, abrindo a possibilidade de subida da Marina e recuperação ou estabilidade de Serra.

Em tais condições, se a campanha Dilma pretender manter o ritmo de crescimento, ela terá de fazer ajustes, principalmente nas relações com o seu PT. É esquisito que candidatos desse partido, seja aos governos estaduais, seja aos legislativos federal e estadual, não mostrem apoio explícito à candidatura presidencial do PT. Deve haver algum desajuste entre a campanha da coligação de apoio à Dilma e a campanha petista.

Além disso, as informações de que a campanha Dilma pretende realizar maior ofensiva na conquista dos indecisos e dos ‘não-sabe’ pode ser positiva, mas talvez não baste para consolidar a perspectiva de sua vitória no primeiro turno. Talvez seja necessária uma ofensiva complementar, tratando com mais propriedade alguns temas que se tornaram cavalos de batalha na campanha Marina.

Marina vem concentrando seu fogo e ataques ao governo em temas como reforma tributária, proteção ambiental, jornada de trabalho, segurança e liberdade de comunicação. É essa crítica que a fez conquistar parte do eleitorado de esquerda, e também tem carreado apoios a candidatos de outros partidos desse espectro político. Somados, eles representam mais de 15% das intenções de voto. Assim, como é nos detalhes que o diabo se apresenta, se a campanha Dilma desprezar o trato de tais temas, pode ser por aí que ela seja surpreendida.

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

Fonte: Site do Jornal Página 13

Comentário do Blog

Vox populi, vox Dei, expressão originária do latim, que traduzida quer dizer a voz do povo é a voz de Deus,me veio à tona ao ler o artigo em epígrafe, assinado por Wladimir Pomar, coordenador da campanha presidencial de Lula em 1989. Logo, da lavra de um experiente dirigente político, com mais de 50 anos de "janela" (militância) neste terreno, que coordenou uma campanha que, derrotada do ponto de vista eleitoral, foi reconhecidamente vitoriosa do ponto de vista politico. Afinal de contas, foi ela que fincou a bandeira para a trajetória do PT e de Lula em nível nacional.

Faço este comentário invocando aquela expressão do latim, não obstante o ateismo convicto do editor deste Blog, porque algo que destaca o referido artigo, sobre a estabilidade mantida por Marina Silva, candidata à Presidência da República pelo PV, em todas as pesquisas, enquanto ameaça de definição da eleição presidencial no primeiro turno, há uma semana ouvi da boca do gerente do botequim que se localiza em baixo do meu prédio: "É PT - é assim que ele me chama -acho que essa a gente leva, mas acho que só no segundo turno. Esta Marina ainda pode nos criar problemas"

Na mesma linha vai o comentário do ex-prefeito do Rio, César Maia (DEM), na análise que faz hoje no seu ex-Blog, claro que neste caso de forma interessada, sobre a necessidade da campanha Serra deixar de lado a linha de polarização com Dilma Rousseff, para abrir espaço e fluência para a candidata presidencial do PV. Isto é: ao invés de diputar com a candidata petista, disputar a ida para o segundo turno

Portanto, como diz o velho ditado, em eleição e mineração só se sabe o resultado após a apuração, mesmo quando os ventos correm para uma mesma direção.

Perdoem-me, caros leitores, pela pobreza da rima!

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