segunda-feira, 27 de setembro de 2010

POMAR COMENTA ARTIGO DE CLOVIS ROSSI

Clóvis Rossi é um paradigma.
27 setembro 2010 Sem Comentários

Valter Pomar - Foto de Cesar Ogata

Por Valter Pomar

Nos tempos do PT pré-2002, ele fazia parte da tropa de choque que atacava os radicais do PT. Depois, durante os oito anos de governo Lula, foi se tornando um acérrimo crítico da “moderação”. Aparentemente sem perceber que colheu o que ajudou a plantar.

A inconsistência de origem, o transforma num crítico também inconsistente. Vide o que ele diz no artigo abaixo, especialmente o trecho onde diz que: a opção se deu entre o projeto petista que reforçava o papel do Estado no setor energético e o tal “modelo que dava segurança aos investidores privados”.

Ora, desde quando “reforçar o papel do Estado” provoca “insegurança nos investidores privados”? A idéia de que exista uma dicotomia entre “Estado” e “interesses privados” é um preconceito neoliberal. Pois na história real do capitalismo real, inclusive no Brasil, o Estado é exatamente o “garantidor em última instância” do capitalismo, inclusive do capitalismo privado.

Claro que há formas e formas de fazer isto. A estratégia adotada na segunda metade do governo Lula (a “metade Dilma”) é de ampliação do papel do Estado, sem que isto implique em reduzir o setor privado, pelo contrário.

Esta estratégia é distinta daquela defendida por Palocci, durante a primeira metade do governo Lula. Palocci, este sim, acreditava na dicotomia, assim como os neoliberais. Se ele continua acreditando, da mesma forma, ou se vai se “adaptar” aos novos tempos, é outro assunto.

Mas achar que Dilma precisa de Palocci como avalista é piada. Na verdade, Dilma é avalista dela mesmo, pois o grande empresariado a conhece suficientemente bem. O que os tipos fazem é tentar fortalecer Palocci como “contrapeso”, para ampliar seu espaço e para enfraquecer a tendência mais estatista-desenvolvimentista do governo e de Dilma.

Acontece que Rossi não parece compreender que o governo Lula é dois, teve duas partes, que houve uma inflexão entre a primeira e a segunda; assim como parece não perceber que o governo Lula também implicou numa inflexão em relação ao governo FHC.

O mais grave do seu texto, entretanto, é a frase final. A brincadeira é perfeita: no mercado (capitalista) não há mesmo opção alternativa. Eles, os que têm grana, operam numa frequência de rádio que vai do neoliberalismo até o desenvolvimentismo. Dentro do mercado, o máximo que se pode conseguir é uma redução da pobreza, como efeito colateral.

Redução da desigualdade e, no limite, subversão do capitalismo, é algo se que deve buscar fora do mercado. Na luta política e social, organizada pela esquerda, pelos trabalhadores.


A seguir o artigo de CLÓVIS ROSSI


A opção de Dilma

SÃO PAULO – A quem ainda tem alguma dúvida sobre como será a política econômica de um eventual -e cada vez mais provável- governo Dilma Rousseff, sugiro que leia a bela reportagem de Ricardo Balthazar, publicada ontem no caderno “Eleições 2010″.

Nela, há uma frase que poderia ser tomada como mote da gestão Dilma: “Optamos pelo modelo que dava segurança aos investidores privados”, diz Maurício Tolmasquim, braço direito de Dilma no Ministério de Minas e Energia.

A opção se deu entre o projeto petista que reforçava o papel do Estado no setor energético e o tal “modelo que dava segurança aos investidores privados”.

Valeu para a energia no atual governo e valerá, como é óbvio, para o conjunto da obra na futura administração se ela for de fato comandada por Dilma.

Basta atentar para o fato de que o avalista de Dilma junto ao setor empresarial é o mesmíssimo Antonio Palocci Filho que desempenhou o papel com absoluto êxito na transição e no início da gestão Lula. Momentos que foram decisivos para a estabilidade da economia e, por isso, a opção se manteve depois que Palocci caiu.

Personagens à parte, a mais elementar lógica aponta para a manutenção do modelo: deu certo.

A opção por dar segurança aos investidores privados não foi inimiga da diminuição da pobreza, ao contrário do que acreditava uma parte significativa do PT antes de chegar ao poder e nele descobrir o nada discreto encanto da burguesia.

Importa pouco para efeitos eleitorais que não tenha havido uma mudança estrutural no país, como aponta, por exemplo, Frei Betto, amigo do rei, desiludido com a opção. Que também não tenha havido redução da desigualdade entre renda do capital e do trabalho importa pouco, desde que diminua a pobreza. E, por fim, há no mercado alguma opção alternativa?

Fonte; Site do Jornal Página 13

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