segunda-feira, 22 de novembro de 2010

VACCAREZZA: CÂMARA E MOMENTO POLÍTICO

Vaccarezza fala sobre o momento político e a sucessão na Câmara dos Deputados

Cândido Vaccarezza, líder do Governo na Câmara dos Deputados - Foto: Cristiano Mariz

Vaccarezza: O PT sabe mostrar os dentes


O episódio envolvendo o superbloco na Câmara é uma amostra de como será a relação entre o PT de Dilma e o PMDB de Temer

Por Marina Dias – Veja.com

Não chegou a uma semana o intervalo entre o anúncio da coalizão entre PMDB, PP, PR, PTB e PSC e o sepultamento do chamado superbloco, com a mão do presidente Lula. O episódio dá a dimensão do quão conturbada promete ser a relação entre o PT da presidente eleita, Dilma Rousseff, e o PMDB do vice, Michel Temer. E das arestas que será preciso aparar nos próximos quatro anos.

O próprio líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), reconhece que foi surpreendido com a história. Mas não recua: “Nós mostramos os dentes”. Em entrevista exclusiva ao site de VEJA, o deputado afirma que as relações entre as duas legendas “precisam ser muito mais de afinidades do que de articulações de última hora”. Na sexta-feira, durante reunião do Diretório Nacional do PT, uma ala do partido chegou a defender uma estratégia para “neutralizar” o PMDB. Dilma chorou e pediu “clima político de união”.

Cotado para a Presidência da Câmara, Vaccarezza dá seu recado: a bancada petista entende que um rodízio no comando das duas Casas do Congresso é a melhor forma de resolver impasses entre os aliados. Caso seja acordado o sistema de biênio, em que o PT presidirá a Câmara por dois anos e o PMDB pelos outros dois, o partido de Dilma brigará para assumir o posto primeiro. “Mesmo que eles não digam, todo mundo sabe que quem vai começar é o PT, porque o PT tem a maior bancada”.

VEJA – Durante a semana, o PMDB anunciou a formação de um superbloco na Câmara. Como o senhor e o PT receberam essa notícia?
Deputado Cândido Vaccarezza - Nós fomos surpreendidos. Mas o PMDB não formou o bloco. Para isso, o bloco precisa ser formalizado com a assinatura dos deputados ou dos líderes dos partidos, o que não aconteceu. Na realidade, eles manifestaram uma intenção sem consultar as bancadas dos próprios partidos. É muito mais um sentimento, assim como a explicação que eles deram para nós, de proporcionar um entendimento entre eles do que um bloco para agir na Câmara ou no governo. Para você fazer esse tipo de coisa precisa ter, além da intenção, condições para fazer e eles não tiveram.

Como o senhor interveio nessa questão?
Eu me manifestei, não sobre o bloco, mas sobre toda essa discussão [por cargos e ministérios dos partidos aliados]. A primeira vez foi quando os partidos começaram a dizer que queriam manter todos os cargos e eu disse que nós íamos ter o primeiro ano de mandato da Dilma e não o nono ano de mandato do Lula. Mesmo que seja um governo de continuidade, é outro governo. Não seria elegante com a presidente Dilma os partidos da base falarem que querem manter tudo como está. Quem vai montar o governo é a Dilma.

A segunda é quando digo que a base não deve se dividir. Precisa ter critério para montar a mesa da Câmara, que deve ser o da proporcionalidade. Como o PT foi o partido que fez mais deputados, o PT deveria ter a presidência da Casa. Da minha parte, eu quero construir um nome de consenso. Não deve haver, nesse processo, choques bruscos entre PT e PMDB.

Mas a tentativa de formação do superbloco não foi uma canelada no PT?
As disputas e caneladas vão existir, mas vamos trabalhar para não fazer disso um racha na base aliada. Não podemos admitir que o governo Dilma seja tutelado por blocos ou por grupos. A Dilma é a presidente, vai ter apoio do PT e deve ter também o apoio da base para formar o seu governo. Nossa relação [PT e PMDB] precisa ser mais de afinidade do que de articulações de última hora.

O senhor se decepcionou com o Michel Temer com essa atitude?
O Temer falou para mim que não tinha conhecimento desse bloco e que foi uma decisão parlamentar. Ele não pode ser responsabilizado pela movimentação aqui na Câmara. Não houve decepção.

O PT sabe mostrar os dentes se precisar?
Nós mostramos (os dentes). Mas eu acho que até um mau acordo é melhor do que uma boa briga. E é por isso que prefiro sempre fazer acordo.

O senhor é um dos principais nomes para concorrer à presidência da Câmara, mas também há outros no PT. Vai haver disputa interna?
Eu te garanto que não vai ter disputa dentro do PT. Nós vamos chegar a um acordo e só serei o candidato se for um candidato de acordo. Estou me esforçando para construir um acordo interno no PT. E o terreno que eu trabalho melhor é o terreno da articulação política, mas não necessariamente precisa ser meu nome.

Sem o superbloco, voltamos para o projeto do biênio, em que o PT ficaria com dois anos da presidência da Câmara e o PMDB com outros dois?

Pela relação de forças que nós temos hoje na Casa, eu acho que não comportaria o PT ficar os quatro anos seguidos na presidência da Câmara. Acho normal haver um rodízio. E o entendimento da bancada do PT é que no Senado também tenha esse rodízio. Seria salutar.

Mas o PMDB não gosta muito dessa ideia se repetir no Senado
O Senado não tem essa tradição, mas certamente vai fazer um acordo e a Câmara, outro acordo. Mas se você olhar para o Senado, vai ver que houve uma mudança muito grande nos últimos anos: a bancada do PMDB tem 20 senadores, a do PT tem 14 e pode chegar a 16. Desses 20 do PMDB, temos três ou quatro que são da oposição. São duas bancadas governistas mais ou menos do mesmo tamanho, como na Câmara. Por isso que a bancada do PT entendeu que seria salutar fazer o rodízio nas duas Casas.

Se der certo esse acordo de biênio na Câmara, vai haver uma disputa para ver qual partido começa na presidência em 2011?
Acho que isso está mais ou menos equacionado. Mesmo que eles não digam, todo mundo sabe que quem vai começar é o PT, porque o PT tem a maior bancada e quem tem a maior bancada tem a precedência de escolher se vai começar ou não.

Quando isso vai ser definido?
Em dezembro. Se depender de mim, eu não tenho nenhuma pressa para definir candidato do PT ou candidato único da base, porque a pressa é inimiga da perfeição nesse caso. O que seria bom para nós: chegar a um acordo. Nós vamos trabalhar para isso. Não é quem se lança primeiro candidato que será o presidente.

Ainda tem muita gente no PT que reluta em governar em coalizão e deseja que o governo Dilma seja mais um governo do partido, com a cara do PT?
O PT superou esse problema das alianças em 1998, quando vimos que só ganharíamos as eleições se fizéssemos uma ampla aliança de centro-esquerda no país. Em 2010, nós viabilizamos a grande aliança que nós sonhávamos. Esse não será um governo do PT, mas um governo de coalizão. Essa é a marca do que é hegemonia no PT. Mas é claro que existem companheiros, alguns inclusive importantes, que podem dizer que esse é um governo puro, mas não é essa a alma da política do PT nem da política da Dilma.

Dizem que Kassab sairia do DEM para entrar no PMDB. Vocês aprovariam a janela da fidelidade partidária para garantir o primeiro nome importante da oposição no governo?
Você imagina como ficaria absurdo se nós, do PT, que temos a maior bancada e divergências com a oposição, aprovássemos uma janela só para fazer um ‘ajeito’ entre os partidos. Eu não partilho disso. Defendo a reforma política, o voto em lista com financiamento público e acho que devemos colocar o país em uma lei eleitoral estável. Mas temos que ir com calma. Sou contra aprovar só uma janela para a migração de partido para partido.

Fonte: Site do deputado federal Cândido Vacarezza (PT-SP)

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