As vezes é preciso arrombar a porta, para se diferenciar
Jorge Bittar é um sujeito sério, íntegro, com história na esquerda socialista deste país, no PT e no movimento sindical. Ora, bolas, não é isso que está em discussão.
O que está em discussão é o administrativismo despolitizado que há muito contamina o PT, e não permite que políticas públicas sejam articuladas a projetos de disputa de hegemonia, de transformação da realidade social, que, para tanto, se faz necessário identificar, seduzir e conquistar aliados políticos e sociais para esses projetos. No caso em questão dialogar, debater, oferecer perspectivas reais e factíveis, até as últimas consequências, com aqueles moradores que estão sendo removidos.
Que políticas públicas não mudem só as condições materiais de vida das pessoas, mas a cabeça delas também. Um bando de gente que considera o governo Lula bom e excelente porque foi diretamente beneficiada por suas ações e realizações votou em Serra e não em Dilma, mesmo cientes que ela era a candidata do governo. Justamente porque o PT e suas lideranças não cumprem mais o papel organizador e mobilizador. Viraram especialistas, técnicos, gestores, administradores .. anódinos.
Ou se entende quem são os nossos potenciais aliados de fato, que está longe de ser um eventual governo Eduardo Paes, do qual o PT participa em função de determinadas circunstâncias políticas e conjunturais, e que está longe de expressar sequer as posições mais moderadas presentes no interior do partido, mas sim aqueles que temos que atrair para os nossos projetos políticos e estrategicos, para abrir uma nova perspectiva para o PT e para a esquerda na cidade, ou se vai tratar, como faz o secretário municipal de Habitação, Jorge Bittar, tecnicamente o problema, já que as ações violentas contra aquelas populações, não são concebidas pela sua secretaria. Pudera!
O problema é que na vida real tais ações violentas de despejo, que ocorrem naquelas comunidades, repercutem na cidade inteira, são debitadas na conta do PT, já que petistas pilotam a secretaria de habitação e não fazem um movimento sequer, nada, para se diferenciarem .
A direção do partido parece que só se deu conta do que acontece, após a matéria de O Globo, sobre as críticas do setorial de moradia do PT a ação da prefeitura e da secretaria de habitação. E pareceu mais empenhada em criticar uma funcionária que erradamente permitiu que o tema vazasse para a imprensa, do que com o seu mérito. Talvez agora saiba que os dois vereadores do PT votaram em campos antogônicos na discussão sobre o plano diretor da cidade. Um com a prefeitura e outro contra.
Logo, não está em jogo a discussão sobre a figura de Jorge Bittar, mas o administrativismo petista despolitizado e burocrata, expresso na secretaria da qual ele é o principal gestor. Que o Bittar ache correta como está sendo gerida a sua secretaria, dentro dos parâmetros que ele preconiza, é um direito inalienável dele. Mas trata-se de uma postura democrática estar aberto para o contraditório, principalmente quando se posicionam companheiros (as) petistas, que têm experiência acumulada em gestão pública no setor e que dominam o tema, ou têm representatividade nos movimentos ligados a moradia e habitação popular. Até porque tais lideranças devem prestar satisfação aos seus liderados, que delas e do partido que elas integram, esperam apoio e solidariedade
Um eficiente gestor não torna ninguém um bom político, mas um bom político pode se tornar um bom gestor. Mesmo os atabalhoados e heterodoxos, como Lindberg Farias. Porque o gestor realiza, e o político primeiro disputa e depois realiza.
Se é para fazer juizo de valor sobre a postura de Bittar, faço pelo lado positivo, ele é escravo das suas virtudes, educado, correto e gentil demais. Um gentleman. O homem cordato descrito por Sérgio Buarque de Holanda, já falecido, pai da nossa futura ministra da Cultura, Ana de Holanda, como característica marcante do brasileiro na sua principal obra Raizes do Brasil, referência em história e antropologia brasileiras.
Em determinados momentos na vida e na política é preciso arrombar a porta, trocar um mal acordo por uma boa briga, mas como não fez na época em que ele era secretário de planejamento do governo Garotinho, aceitou o esvaziamento da sua secretaria logo no início do governo, e foi um dos que mais resistiu a saída do PT daquele governo, mesmo após o então governador chamar o PT de Partido da Boquinha, deixo a conclusão para os leitores deste artigo.
Flávio Loureiro
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
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