terça-feira, 11 de janeiro de 2011

CLOVES E DARCI, UM RESGATE HISTÓRICO

Companheiros Cloves de Castro e Darci Miyaki

Só. Entre inimigos. Nas mãos dos inimigos. Inimigos que batem, torturam e matam. Que o odeiam. Não sem motivos, porque você ousou lutar contra a ditadura, o arbítrio, o atraso, colocando a vida em risco. Os inimigos não compreendem isso. Lutam por dinheiro. Por isso, em igualdades de condições, fogem. À luz do dia, mesmo sem risco imediato de punição, se escondem. Ainda hoje não assumem.

Nunca vivi essa situação de luta. A prisão. A luta mais solitária e difícil. Lutei sempre para evitar cair nas mãos deles, pois sabia o que me era destinado. Tenho profundo respeito por todos os companheiros e companheiras que foram presos durante a luta contra o golpe de 1964. Sofreram na pele, na boca, nos olhos, nos ouvidos, no corpo todo, as marcas da intolerância e da covardia do Estado Brasileiro.

Alguns deram informações. Algumas permitidas e planejadas pela ALN, outras a conta-gosto de todos, pois causaram quedas de gente e de material. Às vezes mortes. Limite humano. General tem razão, vosso tanque não entrega, não sente dor, mas precisa do homem e da mulher para ter serventia. E das idéias.

Na clandestinidade nos importava saber tudo sobre o combate do companheiro preso. Para sabermos como agir, o que desmobilizar, quem avisar, quem não procurar. Só para isso.

Houve casos de uma minoria que trocou de lado. Como em todos os processos revolucionários, alguns trocaram suas convicções e dignidade por dinheiro, liberdade, ausência de dor.

Em todos os casos, como digo no meu primeiro livro, Viagem à Luta Armada a responsabilidade por tudo que não sejam gestos nobres e desprendimento, é do torturador. O que bateu diretamente, o que mandou bater, o que sabia que batiam e concordou ou não fez nada para pararem.

O Alto-Comando das Forças Armadas atendeu o chamado da direita brasileira - os empresários, os latifundiários, os banqueiros e a classe média que se aliou a eles – e atacou o Estado Brasileiro. Botaram os tanques e os soldados nas ruas, rasgaram a Constituição de 1946 e instalaram um regime baseado na tortura, na intimidação, na censura à imprensa, na deseducação do povo, na imposição do individualismo, dos preconceitos e no assassinato político. Estabeleceu-se o crime de opinião!

Lutamos, acertamos, falhamos, erramos, demos a vida pela liberdade e contribuímos para que fosse alcançada. E já fomos processados, condenados, torturados e mortos. Não aceito que meus companheiros presos sejam julgados novamente. Ainda mais quando são vítimas de erros de informação. Cloves de Castro e Darci Miyaki são companheiros da Ação Libertadora Nacional – ALN e foram vítimas recentemente de um erro imperdoável.

Cloves de Castro e Darci Miyaki não foram vítimas na clandestinidade, foram combatentes. Não foram vítimas na cadeia. Combateram com as armas que tinham. Resistiram, não trocaram de lado, estão no mesmo lado até hoje. Combatentes da liberdade e da democracia.

Para se colocar uma informação histórica num livro, temos que confirmar com várias fontes primárias e secundárias. O Professor Rubim Aquino não fez isso, e incorreu num grave erro. Também não quero julgá-lo, mas gostaria que ele revisse suas informações e viesse a público dar o resultado da nova busca.

Cloves de Castro e Darci Miyaki, um grande abraço do companheiro de sempre,

Carlos Eugênio Clemente

Publicado originalmente em http://www.rededemocratica.org/

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