5 maio 2011 Sem Comentários
Por Valter Pomar
Antes de entrar no assunto principal deste texto, três comentários preliminares.
Primeiro, parabenizamos o companheiro José Eduardo Dutra pela coragem e tranqüilidade com que veio a público, perante a direção partidária e os meios de comunicação, informar seu estado de saúde e explicar os motivos pelos quais não queria mais exercer a presidência nacional do PT.
Nos solidarizamos com ele, opinamos que ele deveria tirar uma licença prolongada e não renunciar; mas frente à sua decisão, pessoal e irrevogável, ressaltamos o tratamento correto que deu a uma questão que, para muitos, ainda é tabu: a saúde das lideranças políticas, especialmente quando envolve problemas de fundo neurológico.
Segundo, saudamos o novo presidente nacional do PT, Rui Falcão.
Desde que Dutra pediu licença, apoiamos integralmente a interinidade de Rui, não apenas por ser ele o primeiro vice-presidente, mas principalmente porque acreditamos que suas qualidades pessoais e políticas o tornam capaz de lidar adequadamente com as exigências da presidência.
Pelos mesmos motivos, confirmada a renúncia de Dutra, defendemos a eleição de Rui no Diretório Nacional, tomando o cuidado de — ao contrário de outros setores, meio reticentes em privado mas exuberantes apoiadores em público — deixar claro que, ao apoiarmos Rui como presidente, substituindo em definitivo Dutra, não perdíamos de vista as divergências que tivemos, temos e certamente seguiremos tendo com ele e principalmente com a chapa que o elegeu para o Diretório Nacional.
Terceiro, comemoramos o conteúdo das decisões sobre conjuntura adotadas pelo Diretório Nacional do PT nos dias 29 e 30 de abril de 2011.
Seja pelas decisões de mérito sobre a reforma política, seja pelo que apontaram como tarefas gerais do Partido (apoiar o governo, defender as reformas políticas e tributária, defender a democratização da comunicação social, enfrentar o debate ideológico e aproximar-se mais das classes trabalhadoras, aí incluída a defesa das 40 horas), as resoluções adotadas pelo DN fornecem a melhor orientação possível, ou seja, aquela que a atual maioria dirigente foi neste momento capaz de produzir.
O que nos remete para dois grandes erros cometidos nesta reunião do Diretório Nacional.
O primeiro deles é de responsabilidade coletiva: o balanço que se fez do início do governo Dilma. A saber: seja na política externa, seja na política econômica, seja em outras áreas de governo, há problemas políticos, gerenciais e de mérito que precisam ser debatidos e enfrentados urgentemente pelo Partido.
O segundo erro é de responsabilidade exclusiva e intransferível da maioria da direção: aprovar a refiliação de Delúbio Soares.
Quando falamos maioria, nos referimos a 60 membros do Diretório Nacional, representantes de todas as chapas, com exceção de duas: Esquerda Socialista e Mensagem ao Partido.
Foram os integrantes destas duas chapas que forneceram os 15 votos contrários à filiação de Delúbio. E que buscaram, através de legítimos procedimentos regimentais, evitar que o DN cometesse o erro que finalmente cometeu.
Aqui vale lembrar o passo a passo da coisa.
Em 2005, Delúbio foi expulso do Partido. A decisão foi adotada pelo Diretório Nacional, após ouvir o parecer de uma comissão de ética que apontou que Delúbio cometera “gestão temerária”. Por trás deste termo técnico, um grave problema político: Delúbio terceirizara a gestão financeira do Partido, entregando-a de fato aos métodos , costumes e recursos provenientes de um “operador” vinculado ao PSDB. A expulsão foi aprovada por cerca de 2/3 do DN, contra uma minoria que se absteve ou votou pela suspensão.
Desde aquele momento, até o dia 29 de abril, Delúbio Soares não fez autocrítica consistente dos erros cometidos. O que é absolutamente compreensível: aos réus (e Delúbio é réu em diversos processos) se reconhece o direito de não produzir provas contra si mesmos. E uma autocrítica implicaria em reconhecer graves erros políticos (alguns dos quais serviram de base para pesadas acusações, com sérias implicações legais) que são de sua total e exclusiva responsabilidade. E implicaria em apontar, também, quais erros envolvem outras pessoas.
Apesar disto, ou por isto mesmo, Delúbio nunca aceitou sua expulsão e sempre lutou por voltar ao Partido. Fez isso antes da campanha Dilma, quando foi convencido a retirar o pedido, que certamente seria rejeitado. Fez isso novamente agora, quando teve êxito.
Nunca nos ocupamos de analisar, nem tampouco de duvidar, da sinceridade de seus motivos psicológicos e políticos. A questão para nós sempre foi outra: o impacto político, interno ao PT, na sociedade e no judiciário, da refiliação de Delúbio.
Internamente ao PT, a volta de Delúbio é um ponto a favor dos que erraram então, não parecem ter aprendido muito com seus erros, e no fundamental se julgam vítimas das circunstâncias. Alguns até se consideram heróis e, infelizmente, às vezes parecem prontos a errar novamente. Se vão fazê-lo ou não, dependerá do grau de controle e constrangimento que se imponha sobre eles.
Na sociedade, a volta de Delúbio poderá ser considerada por muitos petistas, simpatizantes, aliados e até adversários cordiais, como um sinal de que uma parcela do Partido não parece ter entendido que o quase golpe de 2005 fracassou apesar da ajuda involuntária dada aos golpistas por alguns petistas, que com seus erros forneceram argumentos para os ataques da direita. Se esta parcela “pragmática” do PT vai fornecer novos pretextos aos que odeiam o PT e a esquerda, igualmente dependerá do grau de controle e constrangimento que se imponha sobre ela.
No judiciário, achamos que a volta de Delúbio soará como uma provocação, que poderá ser instrumentalizada de várias formas pelos que pretendem causar danos ao PT.
Esperamos estar enganados, mas achamos que a refiliação de Delúbio poderá fornecer, mesmo que involuntariamente, argumentos para os que defendem a tese da “quadrilha”, o que afetará não só o PT, mas também os réus contra os quais não há provas factuais, apenas ilações políticas. Isso porque a readmissão de Delúbio, ainda mais apresentado por alguns como herói e vítima, pode enfraquecer os argumentos utilizados por advogados de defesa e por dirigentes do próprio partido, argumentos que isolavam as atitudes do ex-tesoureiro das atitudes do Partido.
Por tudo isto, nós da Articulação de Esquerda votamos em 2011 com o mesmo espírito que votamos em 2005: em favor dos interesses coletivos do Partido.
Enfim, o tempo dirá se nossos argumentos estão certos ou errados. De qualquer forma, nossa impressão é de que esta decisão da maioria do DN confirma, mais uma vez, a originalidade do PT. Noutros partidos, não é raro que uma minoria seja acusada de “encrenqueira” pela maioria. Já na atual direção do PT, parece ocorrer o contrário.
Não está na hora do enfrentamento?
ResponderExcluirMendes