A candidatura Ciro e o dilema do PT
O PT de São Paulo está numa enrascada, que tende a contaminar o partido nacionalmente, caso ela evolua nos termos que jornais como Valor Econômico e O Globo apregoam. Pela primeira vez em toda a sua história, a mais poderosa e influente seção do partido no país, pode apoiar para o governo do estado, um candidato de outro partido, no caso o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), que segundo o noticiário já transferiu o domícilio eleitoral para São Paulo, onde nasceu.
A cautela e a desconfiança orientam que ainda é cedo para pontificar se o presidente Lula vai mesmo bancar essa proposta, no estado onde ele construiu toda a sua trajetória sindical e partidária, e que o catapultou para a condição de maior liderança popular do país.
O busilis é que essa proposta pega o PT paulista de "calça curta", pois surge num momento em que o partido carece de um nome com força eleitoral para a referida disputa. Martha Suplicy, o nome mais forte, está degastada por sucessivas derrotas, e os episódios dos supostos mensalão e dossiê contra o governador Serra, na campanha estadual do 2006, bem difundidos e explorados pela grande mídia, retirou do páreo nomes que em disputas estaduais passadas obtiveram bons desempenhos eleitorais, como José Dirceu e o deputado federal, José Genoíno. Mercadante opta por uma difícil reeleição ao senado.
Outros nomes cogitados, em particular o do deputado federal Antonio Paloccy, são mais sinal de fraqueza do que de potencial de disputa - talvez por isso Lula insinue apoiá-lo, caso o partido decida lançar um candidato petista ao governo -, num estado há cerca de três décadas dirigido por governos tucanos, e que reúne o maior eleitorado do país. Com efeito, decisivo para o resultado político e eleitoral das eleições presidenciais de 2010.
Enquanto em Minas Gerais e Rio Grande do Sul, e em menor grau no Rio, o PT possui nomes potencialmente competitivos, no primeiro caso mais de um, o PT paulista experimenta essa situação bizarra e estranha a sua trajetória.
Em recente reunião realizada pelo direção estadual do PT-SP, registrada neste blog, a maior parte dos pronunciamentos foram favoráveis ao lançamento da candidadura própria petista e a bancada estadual petista, certamente a mais afetada caso não vingue a candidatura própria, aprovou manifesto na mesma direção.
Mas ficou no ar qual seria a posição do presidente Lula a respeito e o peso que ela teria na definição da tática eleitoral do partido, cujo diretório nacional deliberou por subordinar os estados e congelar quaisquer definições eleitorais até o congresso nacional do partido, que será realizado em fevereiro do ano que vem, às articulações em torno do apoio à candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República.
Os sinais são muitos, a todo o momento surgem declarações do próprio Lula e de outras lideranças partidárias, de que as prioridades são, nesta ordem: eleger Dilma, fortes bancadas federais na câmara e no senado e governdores em estados onde o PT já governa. As informações que chegam, são que uma boa parte da bancada federal do PT paulista opera nessa direção, inclusive no seu próprio estado.
Se o desempenho eleitoral do partido em São Paulo é bastante incerto, em função da falta de uma candidatura competitiva e da força tucana, é incerto também o efeito junto ao eleitorado petista, que supera os 30%, de uma candidatura de fora e polêmica como a de Ciro Gomes, que sempre que pode não perde a oportunidade de falar mal do PT, ao mesto tempo em que vez por outra tece elogios a pré-candidatura de Aécio Neves à Presidência da República.
Logo ele, sempre cogitado como plano B do presidente Lula, caso a candidatura de Dilma Rousseff não deslanchesse, agora é despachado para São Paulo para deixar o caminho aberto para a provável candidatura presidencial petista.
Uma coisa é certa, o que ocorrer em São Paulo contamina o partido no restante do país, para o bem ou para o mal, logo ninguém está seguro.
Portanto, é desaconselhável do ponto de vista tático e estratégico se nutrir qualquer sentimento moral de desforra em relação ao hegemonismo do PT paulista, na definição de táticas eleitorais do partido nos demais estados, em geral comandado pelo próprio Lula, diante do dilema que vive o PT de São Paulo.
Com efeito, refletir quais os possíveis desdobramentos da eleição de Dilma, na correlação de forças presente no país, um quadro com enormes qualidades, mas sem trajetória partidária, e sem o peso político do Lula, diante um PT saído das urnas enfraquecido e escondido, sem protagonismo no processo eleitoral, é o melhor caminho para o bom e saudável debate.
quinta-feira, 23 de julho de 2009
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