quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

POMAR POLEMIZA COM SOCIÓLOGO TUCANO

De Bolívar e Pimentel
24 fevereiro 2010 Sem Comentários

Por Valter Pomar
Quem não leu, leia a entrevista de Bolivar Lamounier (“A classe C quer muito mais”), nas páginas amarelas (!!!) da revista Veja de 24 de fevereiro.

Segundo Lamounier, seria ”um equívoco imaginar que os brasileiros emergentes sejam favas contadas pró-governo nas próximas eleições”.

Isto porque “viver em um ambiente econômico mais estável também contribui para que as pessoas se tornem mais realistas. Com isto, elas deixam de esperar a ajuda permanente da providência divina ou do estado. Tomam consciência de que seu crescimento material daqui para a frente depende muito do esforço pessoal de cada um”.

Ainda segundo Lamounier, “o programa apresentado pelo PT até agora falha clamorosamente em entender esta situação. O programa é estatizante a um grau tal que representa um retrocesso de meio século na vida nacional. Está fora de sintonia com as complexidades da economia mundial e suas propostas, sem dúvida alguma, são prejudiciais à classe C”.

Quem leu as diretrizes de programa aprovados no IV Congresso do PT sabe que elas não são estatizantes. Mas quem acompanhou o que aconteceu no mundo, desde 2007 até agora, sabe que “fora de sintonia com as complexidades da economia mundial” está quem não compreendeu o papel central do Estado.

Mas, afinal, por qual motivo as propostas do programa do PT seriam “prejudiciais à classe C”?

Segundo Lamounier, porque “aqueles que ascenderam à classe média querem continuar subindo na escala social para usufruir os padrões de consumo e de comportamento dos grupos sociais mais altos. Ocorre que o estatismo não coloca a classe C mais próxima dessa nova etapa de progresso. Ele faz justamente o contrário. O estatismo da maneira como é defendido pelo PT desmantelará a economia e impedirá a classe C de progredir ainda mais”.

O professor tucano está totalmente equivocado. O “estatismo” presente nas diretrizes de programa do PT se traduz em ampliação dos investimentos públicos e sociais, em habitação, saúde, educação, ciência e tecnologia, cultura, reforma agrária, geração de empregos, democratização da comunicação, integração continental. Sem este tipo de “estatismo”, a ascensão social das camadas populares depende do mercado. E, como sabem até mesmo os postes públicos de Higienópolis, o mercado não é nem um pouco camarada com os de baixo.

Definitivamente, cada partido tem o professor que merece. Mas o interesse da entrevista de Lamounier não está na má sociologia, nem na péssima política, mas sim no que revela: os tucanos estão à busca de colocar uma cunha entre petismo e lulismo, entre o eleitorado tradicional da esquerda e o eleitorado que se aproximou de nós durante o governo Lula.

É por isso que seus intelectuais & penas de aluguel têm buscado identificar e salientar diferenças entre o governo, Lula, Dilma e o PT; bem como especular acerca das “rupturas” que poderiam ocorrer entre o governo Lula e o futuro governo Dilma. No fundo, trata-se de fabricar argumentos para uma tese totalmente impossível de sustentar: a de que Serra seria a garantia de continuidade e estabilidade.

Como sabemos, faltou combinar isto com Sérgio Guerra, que também nas páginas (sempre) amarelas de Veja revelou as “rupturas” para pior que um eventual governo tucano promoveria.
A melhor resposta para a atitude tucana está em lembrar que, para nós, continuidade é mudança, é continuidade da mudança. Como disse Dilma, em seu discurso ao IV Congresso do PT, “avançar muito mais e muito mais rapidamente”.

Ou seja: neutralizar e derrotar a crítica do adversário, mas sem capitular à idéia da estabilidade pela estabilidade, da continuidade como continuísmo.

Nem sempre sabemos fazer isto. Entre nós há pessoas que, semelhante a Lamounier, não perceberam que os tempos mudaram e que não estamos na conjuntura de 2002, quando prevaleceu a “necessidade” de oferecer “garantias ao mercado”.

Um exemplo do anacronismo que domina alguns de nós está na entrevista de página inteira dada pelo ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, ao jornal Folha de S. Paulo de 22 de fevereiro.

Lá pelas tantas, a Folha atribui a Pimentel o seguinte raciocínio: “Às vezes a mídia tem uma tese pronta, de que a Dilma vai ficar refém. É o contrário. É o PT que vai ficar refém dela. Ela tem uma autonomia muito maior em relação ao partido do que Lula tem. Lula é o partido. Ele construiu o PT. Ele não tem como se autonomizar, digamos sim. Ela tem muito mais autonomia para ouvir o partido, respeitá-lo mas, se for o caso, não pagar os pedágios que Lula pagou e paga”.

Talvez a Folha tenha atribuido ao Pimentel algo que ele não disse e que, aliás, contradiz o que é dito antes e depois na mesma entrevista.

Antes: “Lula tem um senhor partido. A Dilma valoriza muito isto.”

Depois: considerar FHC refém do PFL e Lula refém do PMDB é “uma visão um pouco pobre. A realidade política é muito complexa. Nós não podemos prescindir de um partido como o PMDB. Nem nós, nem nenhum governo”.

Falar de ”pedágio” e ”refém”, além de grosseiro e empobrecedor, talvez revele apenas algumas preocupações pessoais de Pimentel. Mas não diz nada, absolutamente nada, acerca das necessidades da campanha de Dilma e de seu futuro governo.

Pois convenhamos: se há um partido “imprescindível” nesta história toda, é o PT. Só o PT, certamente não é suficiente. Mas sem o PT, é certamente impossível. O Partido dos Trabalhadores foi condição fundamental para a vitória em 2002 e 2006, bem como para os sucessos registrados nos dois mandatos; e seguirá sendo condição fundamental para a vitória em 2010 e para o sucesso dos próximos anos e décadas.

Quem não entronizou isto, deveria fazer um pausa para meditação antes de dar tão generosas e largas entrevistas.

Valter Pomar é membro do Diretório Nacional do PT

Fonte: Site do Jornal Página 13

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