segunda-feira, 5 de julho de 2010

RESPOSTA DE WLADIMIR POMAR À FOLHA

Entrevista jornalística ou ação de desqualificação na disputa do trem-bala?

A pedido do jornalista Ricardo Balthazar, da Folha de São Paulo, concedi uma entrevista a respeito do aumento dos investimentos chineses no Brasil e o que isso pode representar de positivo para o processo de industrialização do país. No final da entrevista, o jornalista perguntou se eu era sócio da empresa ATL, cujo principal executivo é Marco Pólo Moreira Leite. Expliquei que conhecia a empresa e Marco Pólo, e que havia contribuído profissionalmente para a constituição dessa trading, mas que não era sócio dela.

Embora o jornalista da Folha tenha escrito, de passagem, que eu me retirei da ATL “pouco depois da criação”, todo o seu texto está voltado para demonstrar que “os dois trabalham juntos..., abrindo portas no Brasil para um punhado de gigantes estatais chineses que querem entrar no Brasil”.

A rigor, isso não teria importância alguma para o texto jornalístico, a não ser que o objetivo seja associar a ação de um empresário apolítico, como Marco Pólo Moreira Leite, que está representando uma empresa chinesa de construção e transporte ferroviário, disposta a participar da concorrência do trem-bala, com um “ex-dirigente do PT”.

Afinal, como diz o texto em vários pontos, este ex-dirigente “participou da fundação do PT”, “foi coordenador da primeira campanha presidencial de Lula, em 1989”, “é amigo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, tem a vantagem de “uma vasta rede de relacionamento”, “recebeu dinheiro do governo para realizar seminários promovendo o comércio o Brasil e a China”, participou “da organização da primeira visita de Lula à China, em 2004”, e “apresentou à então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, o grupo Citic”, que depois foi contratado pela Eletrobrás “para construir uma usina termelétrica em Candiota (RS)”.

Disperso pelo texto, este conjunto de assertivas, algumas das quais inverídicas, seria a prova provada de que “estatais (chinesas) escolhem empresa com conexões políticas para disputar projetos de infraestrutura no Brasil”, como está explicitado na chamada da matéria. A Folha não consegue disfarçar que se utiliza de um tipo de jornalismo nada ético para tentar desqualificar a participação de empresas chinesas (talvez porque sejam “amarelas”) em grandes projetos de infra-estrutura no Brasil.

Deixado claro os motivos da Folha e de outros órgãos de imprensa para trazerem à baila minhas atividades profissionais e empresarias, convém frisar mais alguns pontos distorcidos pela reportagem da Folha:

1) Participei da formação da ATL, mas não sou sócio da mesma, embora não veja qualquer problema caso o fosse.

2) Mantenho relações de parceria, tanto com a ATL, quanto com uma série considerável de empresas brasileiras que realizam negócios com a China. E, ao que se saiba, isso não constitui qualquer tipo de ilegalidade, nem deveria ser encarado com estranheza. Por outro lado, não tenho qualquer interferência nas atividades empresariais da ATL.

3) Me orgulho de ter sido coordenador-geral da primeira campanha presidencial de Lula e espero que ele me tenha como amigo. Por isso mesmo, evito qualquer relacionamento direto com o presidente, tendo em vista que, desde 1996, passei a me dedicar a atividades empresariais. Portanto, ao contrário do que diz o texto, jamais passou pela minha cabeça “tirar proveito” da amizade com Lula para fazer negócios, porque não faz parte da minha natureza, e também da natureza do presidente, aproveitar-se do poder "para fazer negócios".

4) Os chineses, como os empresários de todo o mundo, valorizam a conexão com governos e querem ser apresentados para ter certeza de que seus investimentos e empreendimentos terão o aval governamental. Isso exige “ter relações com todo mundo", independentemente do governo vigente. O repórter deu à declaração a interpretação que tinha em sua mente, não na minha.

5) É prática comum das atividades empresariais que investidores estrangeiros sejam recebidos por ministros, e mesmo pelo presidente, quando aportam recursos financeiros vultosos ao país. Portanto, ter apresentado a CITIC à ministra Dilma fez parte dessa prática e só pode ser estranha para quem queira achar pelo em casca de ovo. A CITIC ofereceu investir mais de 500 milhões de dólares na construção da usina III de Candiota, e isto era e é do interesse do Brasil.

6) Afirmei ao repórter que minha vantagem e, em certo sentido, também da ATL, consistia em ter um conhecimento mais profundo dos mercados da China e do Brasil, o que inclui uma rede de relacionamentos empresariais e institucionais em ambos os países. Ao extrair do texto o conhecimento e deixar apenas a rede de relacionamentos, o repórter da Folha procura induzir o leitor a uma conclusão ambígua.

7) Em nenhum momento recebi “dinheiro do governo” para fazer o que quer que fosse. As Exposições brasileiras realizadas na China, em 2004 e 2006, coordenadas por mim, foram realizadas com recursos, tanto de empresas privadas, quanto estatais, com as devidas prestações de contas.

8) Não participei da “organização da primeira visita de Lula à China, em 2004”. Apenas participei como mais um dos mais de 400 empresários presentes.

Finalmente, algo que declarei ao repórter, e vai além das frases de que “a China tem dinheiro e tecnologia" e, "em vez de ficar com medo, o Brasil deveria ter políticas para atrair esses investimentos". Este é o momento do Brasil exercitar sua capacidade de orientar os investimentos estrangeiros, não só os chineses, para as áreas estratégicas de desenvolvimento tecnológico e adensamento das cadeias produtivas industriais.

Se chineses têm interesse em minérios e outras matérias primas, o Brasil deveria exigir que eles agregassem à exploração dessas matérias-primas vários processos de industrialização, de modo a agregar valor aos produtos e ampliar a base industrial do país. Este é um dos segredos da China nos últimos 30 anos.

Não custa nada copiá-los para alcançar desenvolvimento idêntico. Com a vantagem de que eles não podem reclamar por estarmos exigindo o mesmo que exigiram dos demais quando abriram seu mercado aos investimentos estrangeiros.

Wladimir Pomar – 02/07/2010

Leia a seguir a matéria publicada na Folha

São Paulo, domingo, 04 de julho de 2010

Grupos chineses se associam a ex-dirigente do PT

Estatais escolhem empresa com conexões políticas para disputar projetos de infraestrutura no Brasil

Alvos de investidores incluem o trem-bala, a hidrelétrica de Belo Monte e os campos de petróleo do pré-sal

RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO

Na parede atrás da mesa de trabalho do consultor de empresas Wladimir Pomar, há uma fotografia que mostra seu pai apertando a mão do primeiro-ministro chinês Chu En-lai ao final de um encontro político, em 1971.

O empresário Marco Polo Moreira Leite faz negócios com a China desde a década de 90, quando procurava produtos chineses para abastecer redes de varejo brasileiras e viveu perto de Pequim.
Os dois trabalham juntos hoje em dia, abrindo portas no Brasil para um punhado de gigantes estatais chineses que querem entrar no país.

Uma pequena empresa de comércio exterior que eles criaram há três anos, a Asian Trade Link (ATL), representa um consórcio interessado no trem-bala que ligará São Paulo ao Rio, uma indústria que quer vender turbinas para a hidrelétrica de Belo Monte e uma empresa que está de olho no petróleo do pré-sal.

“A China tem dinheiro e tecnologia”, diz Pomar. “Em vez de ficar com medo, o Brasil deveria ter políticas para atrair esses investimentos.”

Pode parecer ambição demais para uma empresa tão nova, mas Pomar e Moreira Leite têm uma vantagem que poucos possuem nesse ramo: uma vasta rede de relacionamento que ajuda a abrir caminho no Brasil e na China.

APROXIMAÇÃO

Filho de um dirigente do PCdoB que foi morto pela polícia na ditadura militar, Pomar, 74, participou da fundação do PT e é amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele foi o coordenador da primeira campanha presidencial de Lula, em 1989.

Moreira Leite, 66, começou a trabalhar com Pomar em 2002. Lula estava prestes a assumir o poder e os amigos de Moreira Leite na China o procuraram. “Eles queriam muito se aproximar do novo governo”, diz o empresário.

Pomar levou o assunto a Lula e a dupla recebeu dinheiro do governo para realizar seminários promovendo o comércio entre o Brasil e a China. Eles participaram da organização da primeira visita de Lula à China, em 2004.

Na mesma época, Pomar apresentou à então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, o grupo Citic. A Eletrobras depois o contratou para construir uma usina termelétrica em Candiota (RS).

Pomar diz que evita tirar proveito de sua amizade com Lula para fazer negócios. Mas sabe como os chineses valorizam esse tipo de conexão. “Aprendi com eles que você precisa ter relações com todo mundo”, afirma Pomar.

A ATL tem 13 sócios. Entre eles, estão o ex-vice-governador de Mato Grosso do Sul Egon Krakhecke, que é do PT e hoje é secretário de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente.

Também são sócios o deputado estadual Jailson Lima, do PT de Santa Catarina, e o ex-deputado federal Luciano Zica, que deixou o PT para entrar no PV.

Os sócios da ATL investiram R$ 3 milhões para financiar as atividades da empresa. Krakhecke e Zica dizem que não acompanham seu dia a dia e nunca receberam rendimentos da ATL. Cada um entrou na sociedade com uma cota de R$ 200 mil.

Pomar e Moreira Leite negam que os outros sócios tenham sido chamados por causa de suas conexões políticas. “São apenas nossos amigos”, diz Pomar. Ele se desligou da sociedade pouco depois da criação da ATL, mas continuou fazendo negócios com Moreira Leite.

“Os chineses não têm a menor ideia de quem são os meus sócios”, afirma Moreira Leite, que preside a empresa. “Nossa relação é antiga e por isso eles confiam em mim.”


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